Foto: Ravel Luz |
Durmo ali mesmo. Acordo e o mundo parece que gira mais rápido que antes de dormir. Tento aguentar. Mas não consigo. Vomito o que resta de alguma coisa em mim, apenas álcool. Tomo um banho gelado. Alguns porcentos recuperados. Decido ler uns poemas na internet. Leio tantos, mas todos me parecem desfocados, sem sentido ou lógica. E o instinto me faz ir ao teu blog. Leio teus últimos poemas. Me vejo em cada um. Sinto frio, fome, sede, ciumes, vontade de te beijar, de te chupar, de te esquecer. Meu corpo, por mais estranho que pareça, se debate. É dia, faz um sol muito forte hoje, e o frio invade a aorta. Minha visão fica turva. E, por fim, me vejo como um retardado. Pode nem ser pra mim. Relembro que pediu pra a esquecer de vez. Melhor mesmo. Fecho tudo. Tomo outra dose. Caprichada. Bate no peito e queima as entranhas. Espero que queime o amor que tinha ali por dentro. Queime todo e que reste apenas cinzas. E que por favor, não exista fênix para renascer. Que esse amor não resista como resistiu a tanto tempo. Que morra, e me deixe a sós. Caminhar sozinho é melhor que caminhar sem poder amar alguém. E, eu ainda consigo caminhar. Posso não ter mais coração, mas tenho minhas antigas pernas. E elas ainda funcionam. Posso chutar tudo que vier. Só não posso amá-la mais.
Faz tempo que não escrevo nada. Me deito no chão gelado pra ver se me aparece alguma inspiração. Durmo. Babo o chão todo, mas ela não vem. Coloco um jazz bem leve pra tocar. Algo enfim aparece. E dessa vez dança a música. Se insinua. Para, me olha com seu olhar de silhueta. Me perco. Quero tocar, beijar. Fazê-la mais feliz que sempre. Mas, pouco a pouco a realidade recobro e a inspiração era você. O corpo quer, a mente também, as mãos tremem para escrever. Mas não escrevo. Sei que posso estar perdendo um dos melhores poemas que já escrevi. Mas não o escrevo. Não posso. Se tenho de esquecer, tenho de começar por não escrever-te mais nenhum verso. E assim de novo a cabeça dói, lateja. Dor insuportável. Calor aumenta de forma que o suor frio escorre por minha costa. Os ouvidos por algum tempo são incapazes de discernir qualquer som. Os olhos não enxergam e não querem enxergar nada. A voz, desaparece.O único sentimento que alimento é o de querer arrancar isso tudo com a unha. Ir no cérebro, coração e arrancar qualquer vestígio de você. Arrancar tudo e jogar na rua. Deixar os carros, caminhões e ônibus passarem por cima. Assistir tudo pra saber que não há forma de ressuscitar. E o dia termina, a noite vem. Trás os mesmos sintomas só que com agravante na melancolia. Sem festa. Sem amigos. Quero sair, sair pra qualquer lugar que seja longe o bastante. Mas procuro dinheiro e não encontro. Procuro roupa limpa e não encontro, nessa bagunça tá difícil até pra encontrar roupa suja. Desisto. Tomo meu banho e capoto na cama pra ver se durmo. Não consigo. Os pensamentos revoltam. Voam alto. Distorcem tudo. E se encontram em você. Se materializam de novo em você. Mas tudo bem, já estou acostumado. Deixo eles me levarem aonde quiserem, só assim consigo dormir algumas horas seguidas. Os devaneios fazem casa e pego no sono. Durmo como não consegui dormir há tempos. E o sono é bom e calmo. Sonho, claro, contigo. Já é de se esperar quando durmo assim. Contudo, tudo certo. Ao acordar, o mundo será meu de novo.
Continua...