segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Deixei gritar na pele o ruído que é não te ter aqui. Essa bagunça constante de não saber como permanecer em seus braços, mesmo que doa, o silêncio ainda pode curar a sua falta de afeto, de não me dar amor.
Deixei gritar na pele a espera da sua volta, sua partida sempre me deixa o caos, mas o caos da alma; esperando uma salvação que nunca vem de ti, nunca vem do seu abrigo.
Deixei gritar na pele o seu adeus, a falta de esperança de um 'nós', um riso que se foi ao ler suas mensagens.
Deixei gritar na pele o caos que tu me causou.
Deixei gritar na pele o que já não cabe mais em mim e se um dia eu gritar o seu desamor, é porque eu comecei a amar outra pessoa.


-Beca Vieira

Posted on 10:59:00 by Beca

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017





A mulher negra
Sofre todo dia

Por ser negra fui escrava
Outrora, tema de baixaria

Por ser negra
tive que me superar
E ainda assim,
Eles vão me julgar

Falar do meu cabelo,
Que eu sou escura demais
Que eu dou um certo receio .

O que eles não sabem, é que eu vou estar
Em qualquer ambiente,
Por todo lugar

E principalmente, 
Onde aos olhos deles, 
Eu não poderia estar.

Festas, televisão 
Restaurantes caros, Milão.

Que se dane a ostentação

Eu sou aquela negra com o filho no braço
Solteira, separada, abandonada
Que foi iludida, enganada, escondida.

Eu sou a negra hipersexualizada
tema de novela, Isaura

A negra que NÃO aparece no Cidade Alerta
A ESTRUPADA
depois da festa

Eu sou neta da escravidão

Eu sou a amante reprimida
sorrindo na solidão.

Eu sou NEGRA
e eu sou LINDA

Gorda, magra e negra
Lisa, cacheada
CRESPA!

Eu sou NEGRA
E eu sou linda, ra di ante

mereço o respeito e o amor
sou poesia ambulante.

Posted on 02:34:00 by Suzana de Jah

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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017


Eu entendi porque você catava as pedras perto dos rios
Porque você amava as conchas, que eram búzios na verdade
Entendi um pouco na verdade, ou só senti, porque não tem como entender a magia
Senti seu cheiro de alfazema que era o meu também, afinal você não ia de lugar a outro sem pedir a proteção dos seus axés
Todo dia de manhã e de noite tinha um café pro preto velho
Nosso lar era bem mágico,
O seu/nosso segredo mais escancarado é que nós era fio dos orixás.

Aquelas madeiras talhadas, com dois pretos velhos, xilogravurados que eu perguntava se era meu avô e vc dizia que sim, hoje eu sei que não era o vô Zé Geraldo, mas era meu vô e seu também haha ou seu pai!
E porque eu não precisava ter medo porque a Tia Maria tava protegendo a gente, a Tia Maria tinha uma história de mulher preta, igual a sua, dolorosa e linda, forte e linda, triste e linda, resistente e linda, tudo que não cabe, hoje eu sei que eu não preciso ter medo, que você vai me proteger também.
Sinto saudade do seu colo.
Agora eu entendo bem mais ou menos, porque as tuas lágrimas temperavam um prato frio de comida no jantar.
Você é uma das maiores mulheres que conheci.
Aí depois de muito tempo eu descobri mais.
Você é das maiores mulheres pretas que tive a honra de ser abarcado e imerso no afeto inesgotável que você não deve ter tido tanto assim mas inventou só para cuidar de mim!

Mama África, Mama Brasilis, Mãe Minas Gerais, Mãe Aquariana, Mãe mundo todo.
Acho que devo ainda escrever um continente sobre vc, mas não alcanço nem a costa, nem o mar, pra ver que você é oceano.

Por: VHFRO

Posted on 20:55:00 by Victor Hugo Leite

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domingo, 22 de janeiro de 2017

Se existe algo de mal-dito
que seja isso combatido
Exorcizado
Com tudo de colonial
Contudo de-colonial

Para que enfim se grite

Se entoe 
Os cânticos da liberdade

VHFRO <3
Para quem é o teatro?  Quem o assiste? Copacabana, 2015, ao entrar no lugar em que ia assistir a peça Maria do Caritó, dirigida por João Fonseca, percebi que eu era uma das poucas pessoas negras que estavam naquele lugar. Não sei se muitos notaram, mas quase todas/os funcionárias/os do teatro eram pessoas negras. Aliás, para dar um ar dos colonialíssimos séculos XIX e XX, as/os funcionárias/os vestiam umas roupas que lembravam um pouco concièrges, ou algo que traduzo aqui como um uniforme vermelho e amarelo ouro, com aparência de chique. 
Na verdade, o que revelam essas vestes? Elas serviam mais para expor de modo ridículo aquelas/es que trabalham e agradar às vistas de uma aristocracia, também qualificada como branca e senhorial, que habitava a sua zona de conforto, em pleno século XXI, a famigerada selva de frequência na arte só para acariciar o status quo e seus egos. Nem tinha começado a peça e eu já estava bem mal.
A partir daqui vá gradando sua velocidade de leitura a cada sinal. A apreensão sobe a cada sinal. Ou não. Se quiser, aumente a intensidade da sua voz. Leia em voz alta, mas vá aumentando. Ou não me siga. Faça uma leitura dramática deste parágrafo que segue. Faça o que quiser.  Brinque. Dê seu tom para o texto. O racismo é politonal. Cuidado! Pode não ser divertido.
Sentei num lugar horrível. Pensei na prática de costume em muitos teatros. Aguardar o terceiro sinal e portas fechadas para escolher um lugar melhor. Primeiro sinal. Fiquei refletindo sobre as pessoas negras com lanternas que conduziam o respeitável senhor público (muito branco) aos seus lugares. Segundo sinal. Levantei para checar possíveis lugares para fazer minha migração e percebi o quão branca era a plateia. Terceiro sinal. Me levantei e fui. O racismo, de vez em quando, é um gesto. O racismo é um gesto. Um gesto. Me aproximei do senhor idoso, cabelos tão brancos quanto a sua pele. – Senhor, posso me sentar aqui?. Ele hesitou.
Hesitar: do latim haesitare. Classe gramatical: verbo intransitivo, verbo transitivo direto e verbo transitivo indireto. Tipo do verbo hesitar: regular. Separação das sílabas: he-si-tar. Significados de Hesitar: (v.t.i. e v.i.) - Vacilar; não ter certeza; demonstrar indecisão; permanecer em estado irresoluto. Exemplo: ele hesitava entre ele poder se sentar ao seu lado ou não; (v.t.d. e v.t.i.) - Duvidar; expressar dúvida em relação a alguma coisa; demonstrar insegurança. Exemplo: Ele hesitou o fato de deixar o rapaz negro sentar-se ao seu lado no lugar que estava vazio após o terceiro sinal. Exemplo (com esperança na revolução, no antirracismo): não hesitou em deixar que o menino se sentasse ao seu lado no lugar que estava vazio após o terceiro sinal e ninguém mais iria chegar; (v.t.i. e v.i.) - Gaguejar; expressar-se de modo confuso; ter muita dificuldade para se expressar. Exemplo: hesitava no discurso; respondia hesitando. Hesitar é sinônimo de: esbambear, titubar, trepidar, tropeçar, trastejar, flutuar, vacilar, duvidar, desconfiar, oscilar, balançar, titubear, recear, testavilhar, tremular. (Fonte: https://www.dicio.com.br/hesitar/ , acessado em 22 de janeiro de 2017, às 12:01.)
Ele hesitou. Hele esitou, ops. Ele hesitou tanto. Isso nos diversos significados de hesitar. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesi-tou. Ele he-si-tou. Ele hesitou. E-l-e h-e-s-i-t-o-u. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesi-tou. Ele he-si-tou. Ele hesitou. E-l-e h-e-s-i-t-o-u. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. . Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou... (continua há de infinto, ad infinitum) (foi tanto que não cabe em páginas o tanto que ele hesitou).
Ele hesitou tanto (vide acima e vide o infinito e infinitivo de hesitar). Ele hesitou tanto que eu nunca tive tanta dificuldade de entender um sim. Quando me sentei, ele retirou como que de súbito, o seu braço de perto do meu. Quando me sentei, ele retirou como que de súbito. Quando me sentei, ele retirou. Quando me sentei. Quando me. Quando. Quan. Qua. Qu. Q.
            Quando me sentei, o racismo fez um gesto. Eu que já me aventurei, me debrucei em estudar o movimento e suas linguagens, o gesto, o gestus, a Gestalt, os (des)sentidos. Eu ressentido percebi que aquilo não-dito, aquilo nem-dito era  ‘gestus’, um gesto, indigesto, de racismo, do racismo. Esse mal-dito. Mal-dito gesto. Mal-dito.
            Foi a pior peça que já assisti, não pela peça, mas por aquilo que me acontece, a experiência do preconceito, do racismo. Fui marcado a ferro e fogo. A cicatriz é latente. Ela treme. Ela emerge. Aquilo que nos acontece e que nos atravessa pode vir do pior, do não-dito, do mal-dito. Foi o pior lugar que escolhi para (não) assistir uma peça. Eu fui privado do direito de fruir. Do direito de que aquilo que poderia me acontecer, me acontecesse. Naquela cadeira eu quis gritar a todo tempo, o tempo-todo. Aquele teatro me engolia. Em luz... sombra... e silêncio. Meu grito ficou ali calado, recolhido na cadeira, afundado na cadeira, no não-querer ser-estar, no não-querer existir. No aplauso, eu não aplaudi. Eu hesitei. Dentro de mim era dor (som) e fúria.


O racismo vai ao teatro. O racismo se senta nas cadeiras. O racismo assiste. O racismo aplaude. O racismo, quando não, até espera o terceiro sinal. O racismo se manifesta. O racismo se infesta. O racismo-infecção. O racismo antibiose. O racismo antibiótico. O racismo, esse, MAL-DITO!

Por: VHFRO

P.s: Este é um trecho-excerto do meu TCC que está em processo de nascimento.

Posted on 10:03:00 by Victor Hugo Leite

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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Sheyden AfroIndígena - Fotografia
Cena de realidade, moça, mas que mais parecia cinema. Noite de sábado normal, vizinhos curtem um som alto, bebidas, comidas, jogos, discussões. Tudo como sempre. Beijos ousados de um lado. Início de raiva do outro. Os que eram amigos se batem. Se jogam no chão. Um homem forte e gordo agride a mulher do outro. O outro corre pro carro até em casa. Busca o resolve. E resolve por fim a briga que no campo de batalha não cessava. O irmão hora batia, hora apanhava. A cunhada no meio tentando tirar, apanha da outra do cara que bateu na moça. Um povo corre pro carro, e os socos de fora pra dentro são desferidos sem êxito. O motorista arranca e arrasta a mulher que apanhou do cara e o espancava de fora pra dentro. Cai ensanguentada e desnorteada. O motorista vai até o fim da rua e volta querendo passar por cima dela. O carro com mulher e crianças. Não passa por cima porque o irmão do outro voltou e arrastou se arrastando. No quebra molas já parado meio corpo pra fora do carro. O que busca o revólver resolve atirar contra o outro. Sete disparos, arma conhecida como ponto quarenta. O motorista desiste de bater na porta do carro do outro que disparava. Fogem gritando que acertou alguém. E param no hospital. Já o outro namorado da moça. Volta putaço com a moça que começou a briga por um copo de bebida. Duas semanas depois, ninguém viu nada. E eu mesmo, nem sei do que escrevi. Só sei que por alguns minutos eu tentei e pestanejei falar algo bom. Só pensei em merda, vou sair daqui.

Olhei pra minha irmã do meu lado e disse:

- Sair daqui ir pra onde?! Onde é que é melhor? Fazer o quê? Viver do quê? Aqui ao menos há uma ponta de esperança...

Silêncio...

De volta ao quarto, deito e penso e repenso. Se eu tivesse um daquele resolveria tudo. Ou se eu jogasse na mega, ganhasse e saísse daqui. Já sentiu o que um favelado sentiu? Eu naquela noite de novo senti. Quase desisti de escrever isso aqui. Quase desisti de escrever de novo sobre isso aqui. Quase decidi em desistir de vez disso aqui. O cansaço me capota e durmo quase cinco horas seguidas. Coisa rara nesses tempos. Acordo e me assusto com o tempo. Sorria pra mim. Parecia que dizia pra não desistir antes do fim. Levantei de trégua com o azar e com a sorte. Decidi me reconhecer nisso aqui.

Despejei toneladas de arte num pedaçin de papel. Falei de bocas beijadas e bocas sonhadas. Desejei o topo e minhas conquistas. N'algumas pequenas poesias disse que vai ser melhor eles vir aqui. Conhecer isso aqui. Nem que pra isso eu tenha que escrever de novo e de novo sobre isso aqui. Eu disse pra mim mesmo:

- Cês pode não achar, mas eu sou quebrada. Vivo e morro nela todos os dias.Já sai e voltei tantas vezes. É, eu sou. Eu sou muito mais do que penso disso aqui.

Acordei do sonho antes da hora. Sabe, eu ainda lembro de quando constatei que minha forma de pensar já havia sido denominada nessa sociedade ocidental, e essa forma de pensar era demasiado perigosa. Talvez eu fosse perseguido por pessoas e/ou polícia. Só em dizer que eu fosse esse tipo. Eu lembro e foi como quando me descobri ateu. Fiquei quatro dias sem dormir direito. Tinha ascendido meus pensamentos. Senti medo, fome e frio. Minha ansiedade nesse tempo foi abaixo. Lá embaixo. Lá no poço.

O mundo tinha uma ordem e eu decidi desordenar essa ordem. Vi meus pensamentos preconceituosos. Vi que tinham roubado o meu futuro com o saque ao meus antepassados. Eu sentia ódio do mundo antes mesmo disso. Já era revoltado com o mundo antes mesmo disso. Já pensava em como viver melhor antes mesmo disso. Ser o que sou é só uma denominação. Nada mais. O mundo havia inventado uma palavra pra dizer o que sou. E eu nunca nem pude dizer se concordo ou não. Porque a padronização desse pensamento é perigosa, né?! Já disse de início. Eu sou a merda que o mundo odeia, antes mesmo de saber que era parte dessa palavra. Traduzida de várias formas. E eu nem sabia o que significava, sujo, mal lavado, escarrado, fedido, sem sucesso. Disseram na escolinha enquanto meus pais não vinham por excesso de trabalho. "Ei, pretinho! Vem cá! Cadê seus pais vagabundos, hein?!"

Nem sabia o que era e senti medo, vergonha de mim e dos meus pais que trabalhavam pra eu poder estudar. Mas se tivessem perguntado eu teria dito. Preferia a escola da rua. Mas tinha dias bons lá dentro daquele cárcere, os dias que espalhavam em mim os índios. Toda a escola me via diferente. Sem julgamentos. Mas era só ali. Os outros dias vinham e me trancavam no banheiro durante o recreio. A professora depois não deixava ir no banheiro, dizia que devia ter ido no recreio. E lembrei de tudo isso antes de por o pé no chão. Pés no chão e o mundão gira. Por mais triste que aparente eu gostava de boa parte daquele tempo.

No entanto eu queria ser o Júnior, ter o cabelo igual o do Júnior. Dançar igual ao Júnior. Ter as minas como o Júnior. Ser interessante como o Júnior, o moleque tocava vários instrumentos com doze anos de idade. Eu, no máximo, tocava a água pra ver se tava no ponto pra banhar de copo. Quente onde a água caia e frio no resto do corpo.

Agora cresci me vi aqui, diante a minha face refletida no espelho. Querendo ser, apenas eu mesmo. Barba grande, cabelo grande e tudo bagunçado. Relacionamentos e vida profissional. Tudo na mais harmônica bagunça possível. Quero incessantemente ser o que não deixaram nunca que eu fosse. Perdi tanto tempo que agora perco algum tempo me dedicando esse tempo. A cara eu lavo e os dentes escovo. Me deleito no prazer de reconhecer no espelho, eu mesmo.

E tem tempo que não resisto a um espelho. Me aprecio, vejo o que mudou e que ainda muda. Pergunto, será que faz quanto tempo que não vejo meu antigo rosto?! E, se isso me atrapalha e a resposta é de que, nunca estive tão bem comigo mesmo. Nunca me vi tão lindo em reflexos. Por mais que ainda me encorajo a olhar. Por mais que por noites e dias eu deteste todo o meu corpo e a minha cor. Eu ando gostando de ser eu mesmo. Sem precisar me esconder em palavras, atos e roupas que nunca foram o que sou. E têm dias que esbanjo tamanho amor por mim que me chamam de egocêntrico. Ah, que mentira desses aí. Eu ainda reconheço meus defeitos. Vou bem agora. Coloco uma música que fale mais de mim pra tocar e me inspiro na brisa que bate na porta. E vai ocupando cada espaço da casa e no meu corpo. Como se ela estivesse aqui.

E está aqui a presença dela, presença de Deusa. Cheiro de Deusa. Gosto de Deusa. Eu sou ateu, mas acredito em Deusas. E ela vem sempre quando tô na pior ou na melhor e longe dela. Envia lá de onde tá a sua presença. Pra me contentar com sua ausência. Que bom que agora vem.

Tem um cheiro de erotismo doce do tipo que exala do corpo dela quando a toco. Adoro essa animação que imergi dela aqui. O tempo fica bom. E eu me into melhor. Foda que dura alguns poucos instantes. Mas hoje quando se for eu vou ser o que aprendi a ser. Melhor.

Se foi a brisa e decidi ir ao mundo. Fui. Baú demorado, baú lotado. Da janela pixos de amor. Pixos revividos dos que se foram. Grapixos nos muros das mansões. E mesmo que falassem algo. Eu só conseguia pensar em você. Nua. Seminua. Vestida. Talvez puta, talvez poetisa. Sempre mulher.

Cheguei num sarau e cê tava lá. Como sempre. Sorriu e me alegrou. Elogiou meu perfume. Colou o queixo no meu pescoço. Deu um xero no meu cangote e disse palavras mágicas que abrem qualquer corpo fechado. Pretinho. Teu cheiro na presença é melhor que as minhas pirações. E por fim me beijou o rosto com um olhar no olho, e a mão do outro lado do rosto. Gostei como sempre. E mais ainda que se demorou nu nosso abraço. Bem colado. Lhe sussurrei algumas palavras:

- Pretinha, tenho planos pra mudar isso tudo.

Seu beijo me cala a timidez. E que essa seja a única coisa que me cale de agora em diante. E mais do que surpreso esse beijo foi desejado tantas vezes antes. E bem ali onde todos poderiam ver nossa cena de amor delinquente. Teu beijos que arrepiam e me excitam, minhas mãos que te colam em mim. E só um desejo em mente. De ser teu motivo de escrever poesias.

Fuga do palco pra trocar beijos como num tiroteio escondido num corredor qualquer. Teus seios beijo. E me desabotoa a bermuda. Me ajoelho diante tua cascata proeminente e me afogo no temporal que lhe causo. Com dedos e língua. Com toques peculiares. Que bunda linda de morder. Que lábios carnudos de chupar. Te beijo. Depois de em mim desaguar. Lhe disparo com minha arma. E sentimos a euforia da vida mundana. Agradecemos a existência de nossos corpos. Nos chamam no palco. E a platéia nunca soube o porque da minha melhor apresentação.

Não sei se foi miragem ou se foi real. Ela se foi antes que eu perguntasse. Não sei se tudo aquilo foi um sonho que sonhei no ônibus.

Maluco Sonhador.
Sheyden AfroIndígena.

Posted on 02:27:00 by Unknown

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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Foto criminosa de tribo isolada na Amazônia - Reprodução
Não sei se leu por aí que deu no jornal, pretinha. Que realmente não era atrás das índias orientais que iam em busca. Deu outro dia na tevê aberta. Que ficou depois de mais uma vez atentarem contra a nossa história maior que temos. Foi assim, disseram que fomos descobertos, de repente, num lugar onde já tinham padres desenhando nossos ancestrais e parentes. Numa terra que dava ouro na flor da pele e trocariam tudo por espelhos. Tipo eram umas pessoas brancas falando isso lá manifestação cor de verde, amarelo e azul marinho com sal de sangue de preto. Eu ouvi de uma senhora que lembrava a minha avó dizer que se não fossem os patrões dela, ela estaria com fome. Lembrei da professora branca, prima de um chefão de estado na época, que disse que nessa terra tinha muito pau que se chamava Brasil e era tantos que decidiram pegar tudo porque tinham afinal descoberto essa terra aí que vemos a perder de vista. Mas, lá no jornal foi notícia depois de estourarem serras e corpos pelo metal mais caro por quinhentos e tantos anos. Que não queriam as índias do oriente e sim estuprarem as novas índias ocidentais. Quer dizer, mudaram o nome de estupro pra miscigenação. E disseram que já tinham índios quando queriam invadir, quer dizer, ocupar. Foi assim gata, falaram que era por uma tal de história, descobriram que isso aqui tudo já tinham uns donos. E eles andavam pelados e tinham a pele como Negús, aquele lá da bíblia que foi amaldiçoado. É, todo seu descendente deveria ser escravo. Te juro pretinha. Foi assim que excluíram nossa história no jornal...

ugh ugh ro ro

- Véi, (ugh) essa era da boa hein?!

- Tu que tava de viajem errada.

(...)

- Ei, moça. Quanto é a passagem?

- É cinco.

- Moça, a gente tava ali conversando e levaram nossas identidades. Eram tipo uns cara branco armado, tavam de caravelas. Sabe, aqueles carros de bandido?! Tinham uns números dos lados. Eles tinham umas letras bem grandes. Eram muitos. Disseram que minha mão tava com cheiro.

- hmmmm, tipico.

- Moça, que ano é esse?

- Dois mil e dezessete, ué, porque?

- Porque a esse preço eu pensei que fosse em mil quinhentos.


Dois cartões, cada um é depositado nas suas roletas. A catraca fez traaac seco. Passaram. Desceram deixando a esquerda livre. Bem rápido porque o trem do metrô já vinha parando. Correram. Era o se perder não teria o das onze. Entraram, mais lotado que o de costume. E colados num canto, janela de um lado belos prédios do outro favela. Era a linha insegura que separa os sonhos da realidade. Ela se sentia segura e ele com medo. E era como se um segurasse o mundo um do outro. E tiveram um beijo que foi como se tivessem pedido pra aumentar as luzes e a música da cidade. Como se tudo ali não importasse. Mão no peito dele. Mão no rosto dela. Carinho intenso e beijos molhados. Seria um tormento aquilo se não fosse com ela. Ele viajava.

O condutor anuncia fim de linha, param. Portas se abrem. Saem. Calor forte. Saída com entrada pro mundo em que não falaram no jornal. Caos quente a pouca luz. Mãos dadas. E caminho silencioso até em casa. Porta abre, entram. Fecha incomodando a vizinhança. Luzes se ascendem. O breu agora dá forma a uma sala desarrumada e alguns desejos.

Suor, corpos e vida. Se encontram em portas fechadas. E o mundo parece parar de girar. Com todas as roupas jogadas no chão até o tapete. A luz que ilumina vez ou outra a da lua e quase sempre dos giro flex. Ambulâncias, viaturas. Tudo abafado ao som do love sex. À peruana na intensa troca. Como reclamar dessas luzes que refletem no corpo dela? O corpo que envolve. A pele preta que reflete. O suingue leve e intenso. Sorrisos e malícias no encaixar perfeito dos corpos num silêncio temporário onde o que se escuta é o entrelaçar dos corpos. O aprofundar de lábios em língua e dedos. O versificar de um ai.

Do chão ao sofá rastros de pudores desmascarados. De pernas que travam ouvidos. Ouvidos que entendem o caminho. Caminhos que se inundam e trazem o melhor sabor do corpo. Compartilhado em beijos e espalhado entre os corpos. Os poros expostos das unhas nas costas. E os cabelos na mão dela. O gozo na barba dele. E tantos beijos e trocas de gemidos sacanas. De canto na parede, no braço do sofá. E dois dedos deliram-na. E de suaves a extensos movimentos. Forte e calmo, rápido e louco. Intenso. E quase tremendo. Mãos por todos os corpos percorrendo. Sentados no sofá. Lá fora o mundo não para, tiros e pneus queimando. Ali dentro dois corpos em pura combustão carnal. De novo parece o mundo todo parar quando os olhos dela reviram.

Sol nascendo na janela do trem. E... Será que isso um dia vai acabar ou virar algo? Sei que ela só me quer pra tapar as lacunas do namorado branco dela. Mas é tão bom. O sorriso dela, o beijo dela, a voz dela. Pior que o sexo nem é mais o mais importante agora. Pior que ela prefere que a chame de morena...


Maluco Sonhador.
Sheyden AfroIndígena.

Posted on 18:47:00 by Unknown

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domingo, 8 de janeiro de 2017

Uma História de Amor e Fúria - Filme
Vem, moça, volta. Se quiser. Que essa noite eu quero ser seu par. Quero na mesma intensidade te tirar o ar. Vem entra no teu uno vermelho. Trás um vinho que eu preparo o amor pra dividir contigo a noite ou o tempo que puder ficar, sei que em outro lugar tem um outro. Mas, moça índia, quero cada sussurro seu, cada gemido. Quero deixar a vontade de ver o mundo explodir e ver em nós o calor e o afeto molhado se contorcer e dele um fogo explodir. Quero morder teus lábios. Seu queixo redondo.

Vem me expõe seu corpo e suas vontades nuas. Esquece as teorias e me ensina sua prática. Porque desejo entre meus lábios e os seus, seu clitóris. E nadar com língua num mar molhado e estreito. E como gosto de como seus seios cabem na minha boca. Vem, ancora teu navio no meu cais. Me domina e tira tudo de mim. Sussurra devagar e louca no ouvido. Me chama de pretinho. Sit on my face, querida. Só me liberte quando teu corpo já estiver em transe. E me acuse de ser seu par mais orgástico.

Vem, vamos fazer disso um rito de passagem. Pro nosso orgasmo em conjunto. Um amor tribal. Que aquilomba nosso proibido desejo. Vem se aldeia em mim. E deixa seu cabelo e bagunçar com minha barba enquanto me alucina com seu quadril. Abre, entra, fecha e requebra. Sobe e desce. Seus cabelos em minhas mãos e um beijo intenso, forte e quase lento. Denso os teus gemidos e meus dentes em seu pescoço.

Vem que eu posso não ser Tupac Amaru e salvar meu povo, mas ao menos sua noite eu salvo. Eu sei que você não é o malfeitor, mas que o meu corpo e coração por ti já foram rasgados faz tempo. E, ainda te quero. Sei bem que depois que eu dormir cê vai embora. Mas quando eu acordar vou sentir teu cheiro e lembrar que aqui eu amei uma deusa. Vai e, quando for deixe um pouco mais de si em mim. Sei que de manhã já pode nem lembrar mais de mim. Mas se lembrar. Sabe onde chegar. E traga tudo de novo.

Maluco Sonhador.
Sheyden AfroIndígena

Posted on 21:40:00 by Unknown

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