terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Em todos nós, um poema


Foto: Rotimi Fani-Kayode (Nigéria/Inglaterra)
Half Opened Eyes Twins, 1989.

Poema do amor a todos nós, em todos nós, um poema
Poema des-continentado
Poema pra não deixar o navio partir
Poema pra tentar não te perder em mim
Poema para dizer que não foi em vão

Meus olhos não são azuis
Olhando para você meus olhos desenham em mim a beleza do preto,
Do castanho,
do cinza...

Nossos rostos? Traços ancestrais
Que sacodem os nossos cabelos sobem mais que descem
E quando descem apontam um cacho, mil cachos de complexidades,
encaixe,
Seus cachos encaixados nos meus até o infortúnio de um triste
desencaixe,

E quando se juntam, se emaranham, se embaraçam,
Já viu poesia maior que um encontro virar dread?
Acho que o nosso caso tava dado a ser assim, bem dread,
bem difícil de alisar,
ou bem resistente eu diria.
E quando se vê já não se sabe onde se deu a primeira conexão ou o último embaraço.

Não sei em que trança se perdeu ou começou nossa raiz, eu e você, eu sem você, que seja livre!
Tipo rasta de bixa preta quando bate cabelo,
é o poder que nos espera,
eu com ou sem você,
você com ou sem eu,
porque somos o que nós somos,
então com quem de nós estiver,
eu estarei feliz em Ubuntu...
eu estarei feliz em Ubuntu... (Eu repetirei...)

O meu cabelo já é tão mais livre desde quando te conheci, talvez você tenha começado a me ensinar na sua língua afroafetiva, afrocentrada, até em outras línguas... black is power, black is beautiful.


Meu coração, quando abraçado com o seu, ressonava o ritmo dos nossos...

...ainda ressoa só
Que com você
Fez uma linda festa
OLODUM

Desencaminho
Descaminho nas encruzilhadas que escolhemos escolher
Ainda sinto o teu cheiro de Atlântico...
Negro
Admiro seu diaspórico caminhar
Daqui...
De longe
E tão perto,
Arrastado
Capturado
Explorado
Expropriado
Nenhum navio ousaria fazer eu me esquecer de você.


No seu abraço eu me sentia um des-continente inteiro
Já não era mais abraço de Mãe (Mama África) tampouco de suas filhas (do estupro colonial)
Era colo e coração
Em diáspora

Sem saber onde
Em alto-mar
Em continente
Navio
Nada
Em diáspora

Era colo e coração
Em diáspora

Por: VHfro ✊🏿



Foto: Larissa Souza (Pará-Brasil)





(E no final eu diria que seus olhos também não são azuis, mas eu não o quis fazer)

Posted on 11:03:00 by Victor Hugo Leite

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sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Anais Mali

Altas viagens num só sorriso
passado meio que se fazendo presente
falou do meu abraço e do meu sorriso
sussurrou com voz de Yara juntinho
no meu ouvido: Pretinho!
Virou verso inconsciente na mente
Percebi e sem querer que perdi o caminho

Meio verso, meia prosa, meia hora dessas
uma hora inteira vai ver quem sabe
a gente acerte a meia vida que temos
fazendo delas inteira

Será que dá pra meio que me perder
naquela meia curva entre a clavícula e o cangote?
Ou meio que me encontrar ali no meio
entre cavernas e relevos uma cachoeira?!

Eu sei que metade de mim se apaixonou
a outra insiste em dizer que não
mas queria mesmo era saber
o que disse a tua metade
pra gente juntar as poesias
e fazer quem sabe uma fotografia
de nós dois colados
sorrindo
tipo um laço desembaraçando os nós...

Maluco Sonhador
Sheyden AfroIndígena

Posted on 10:42:00 by Unknown

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sábado, 26 de novembro de 2016


25.11.2016

Não é literatura. Não é estética. Não é hipérbole ou outra figura de linguagem. E não se trata de querer dar um tom poético aos problemas de ansiedade — e talvez outras coisas desconhecidas — mas é que minha única fuga é a escrita e as vezes ela funciona, quem sabe, acima de tudo, hoje seja um desses dias de sorte. Eu estou definitivamente surtando e posso sentir mais uma vez que estou me afastando de tudo e paralisando uma vida para entender o que é vida e compreender o que sou. Mas em poucas semanas eu me perco em mim novamente e já não reconheço meu rosto. 
Eu estou bem. Eu estou bem. Garanto que estou bem. Eu não estou bem. Não estou nada bem. Mas eu prometo que quero estar bem. Eu juro que estou me esforçando para ficar bem. 
Mas na verdade eu nem sei o que é estar bem. Me disseram esses dias sobre a sensação de encerrar uma semana inteira estando equilibrada, sem a presença do sentimento de estranheza e desconexão. Eu não conheço essa sensação e se já conheci, me certifico de que as sequelas da vida se encarregaram de apagar a lembrança. Eu mal sei o que é completar um dia estando bem comigo mesma.
Eu sinto que a cada dia tomo uma forma interna mais distinta do meu corpo e a cada dia sinto que me encaixo menos em mim. Como se minha pele repuxasse, meu corpo começasse a sofrer mudanças ruins para continuar mantendo esse interno que parece exalar algo podre o tempo i n t e i r o. Como se eu tivesse limpado todos os cômodos da casa mas esquecido de colocar o lixo pra fora. E há quanto tempo esse lixo está aí? Semanas? Meses? Anos?
Eu pensei em buscar ajuda profissional. Juro que pensei. Eu queria reverter essa situação eu queria me sentir bem comigo mesma e eu quero isso há tanto tempo e já tentei tantas coisas. Eu vou buscar ajuda, mas é que antes eu preciso cuidar das plantas. Preciso pagar aquele boleto. Preciso ir no mercado. Sempre tem algo de aparência mais necessária porque não considero de extrema importância nada que faça parte de mim.
E as pessoas dizem que posso contar com elas, mas os celulares nunca atendem, os pontinhos verdes simbolizando disponibilidade nas redes sociais nunca estão quando eu preciso e não é culpa delas, não é culpa de ninguém. E não quero que elas se sintam mal por estarem ausentes nesses momentos, por isso prefiro que não digam que estarão lá para me ajudar. Desencontros são normais, mas são tão comuns que me assustam.
Eu tento explicar para as pessoas que eu me esforço, mas elas parecem nunca estarem satisfeitas com os meus poucos progressos e isso sempre me faz regredir e como dói. Como dói fechar a janela depois de tanta dificuldade pra levantar da cama e abrir ela.
Eu não quero me sentir doente mas eu sei que eu estou, e assim como todas as outras minhas doenças eu estou tentando só arquivar. Costumo fingir que é tudo superficial e que nada ultrapassará minha pele para me atingir na essência. Só que dessa vez não são arranhões na epiderme, está mais para órgãos vitais dilacerados. E eu não me sinto viva mas também não sei há quanto tempo morri. Uma carcaça solta por aí não deveria carregar tantos problemas, principalmente por ser fraca e corroída demais para suportá-los.[Ester Bessa]

Posted on 12:11:00 by Unknown

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domingo, 13 de novembro de 2016



Moro numa quebrada
igual não existiu
a tia de braços abertos
correndo atrás do que sumiu

Subindo de parada em parada
nada fala no silêncio da quebrada
força nacional de farol e rotalight desligados
procuram um desses vagabos

a farda que atrofia
enxerga em mim o seu reflexo
do perseguido o fuzil cego
mira a bala perdida pra encontrar seu nexo

barca carregada de preto
na frente, atrás e arrastadas
furtam mortes
e seguem sons como coiotes

Ninguém viu e ninguém vê
na madrugada o silêncio
é a pegada de quem quer
acordar do sono, cônscio

passam me encaram
com suas placas arrancadas
e números apagados disfarçam

não me querem agora
não sou o banquete
dos pitbulls e rotivailers da hora

Mas o olhar é de sangue
parecem quererem revanche
açougueiros da carne mais barata
não é pólo norte mas matam como avalanche

Nem pólo norte e nem sul
bem vindos ao frigorífico entorno sul
onde os pivetes fazem corre
atrás dos vru vru e das uh uh...

Lugar comandado pelo
partido neo liberal de sua escolha
terra de ninguém daqui sou nativo
mais um três "P" combativo

Três vezes o "P"
na minha pele são marcados
preto, pobre e periférico
nascido do ventre livre que fui carregado

Pedregal onde os notívagos
se escondem e nas sombras vagam.
Quem silenciosamente faz Piquete
nas Paradas embarcam e desembarcam

Piqueteiam no trampo lá no plano
trabalhando pra branco
fingindo não se ressentirem
com um tal de racismo meio brando

Sala de aula um piquete por hora
professor não entende que não dá
realmente não rola levantar mais cedo
porque mais cedo não tem baú, rá!

Professor nunca passou pela roleta e pagou passagem
patrão nunca se sentiu sardinha.
acham que de minuto em minuto surge uma miragem
anunciando baú com vaga fofinha

E nas paradas descem a tia
o tio, o irmão, o sobrinho
o pai fugido e a mãe louca
todos singularmente sozinhos

Desce também quem trabalha
quem rouba e quem estuda
também desce quem de farda mata
cada verdade no seu olhar oculta

Esqueço por um segundo disso tudo
desse outro lado do mundo
quando num baú e por um segundo
cê passa e seu olhar reacende desejos profundos...

Maluco Sonhador
Sheyden AfroIndigena

Posted on 09:39:00 by Unknown

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quarta-feira, 9 de novembro de 2016





Fama é aquilo que dura muito menos que o talento. Quando comecei com a minha page aqui eu fiquei um pouco besta. Tipo, ual. Olha quanta gente curte o que faço. Sou foda neguin, curte só. Tenho mais curtida que meus amigos artistas tudo. E foi indo, até que... Pow, acordei. Não é bem assim. Não é a quantidade de likes que vai dizer o quão bom eu sou. Olha essa galerinha aí, nem tem esses talento todo e já sai tirando quem tá começando. Tão cheios de likes e pouco conteúdo. Pouca ideia pra trocar. Muito ego.

Aterrizei de volta no planeta terra. Me coloquei de volta no planeta quebrada. Aprendi que a minha poesia é diferente desses daí. Procurei quem escrevia na mesma pegada que eu. Estudei mais essa forma de poesia. E aprendi que sucesso. Sucesso é construído de tijolo a tijolo. De prego a prego. De telha a telha. E que isso, jamais colocaria a minha poesia no topo logo de cara. E assim tá sendo também com a fotografia. Tô bem longe de ser um ótimo fotógrafo com o olhar foda. É corre, é corre. Não é essas molezas que me dizem que é não. É cada crise de ansiedade.

Se liga, é deitar na cama depois de um diazão fodido fazendo foto na rua, com medo de polícia e medo de assalto. Pensar e vê que poucas fotos foram as fotos. E também, é sentar e me reler e crer que poucas poesias são as poesias. Não é facin assim não. É cada analisada. É cada consciência que a gente toma. Que fica mais fácil aprender o porque de os grandes serem grandes. E, caras pessoas que leem, continuarem a serem grandes.

Sucesso é o que fala da sua carreira e não do momento criativo que tens. Sucesso é a caminhada. E a fama um atalho. Atalho que te cerceia de aprender consigo mesmo quais são seus limites e porque de tê-los e o porque de quebrá-los.

Posted on 10:49:00 by Unknown

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terça-feira, 8 de novembro de 2016

(Você pode ler ouvindo - Deixa eu dormir na sua casa)

Diz que hoje vai passar um filme que eu vou gostar muito de ver no telecine e quando eu disser que só assino HBO, me chama pra ir até a sua casa. Pipoca e filme no sofá com você. Só isso. Coisa que até amigos fazem. Diz que não existe nenhum intenção pervertida secreta. É apenas um filme.
Me faz esquecer o atlas de anatomia do Netter na sua estante, o prazo pra devolução vai acabar e vamos ter que nos encontrar de novo. É só pra me devolver o livro. Nada demais.
Inventa um resfriado, uma asma, ou qualquer doença respiratória que você tenha só pra eu te acompanhar até o hospital e ficar ao seu lado enquanto toma medicação. Apenas ser sua acompanhante de ambulatório. Nada demais. Afinal, eu adoro hospitais.
Me liga às 16 horas no domingo dizendo que estava passando por aqui e pensou se, de repente, eu não gostaria de assistir ao jogo com você. Mesmo eu sabendo que você jamais teria algo pra fazer aqui perto. E que eu não sei assistir futebol. Mas vem. É só um jogo.
E de desculpa em desculpa, vem! Ou, simplesmente, diz que quer me ver. Diz que sente falta de misturar o som da sua risada com a minha. Fala que tá foda não ter a minha companhia pra ficar acordado até às 6h da manhã jogando conversa fora. 
Vem, com ou sem motivo, mas vem.
Porque tá difícil demais não ter mais desculpas pra ficar.
Vou preparar o café, sentar e esperar que você venha me dar motivos. Porque eu preciso de uma razão, mínima, que seja. Eu preciso ouvir um motivo, vindo de você, pra que eu não desista de nós. Preciso me apegar a algo que me faça ficar, porque eu quero ficar.
Me dê motivos pra continuar a te amar!



- Luiza Moura

Posted on 22:09:00 by Luiza

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quinta-feira, 3 de novembro de 2016


(05/10/2016)
Foi num dia ensolarado. Certeza. Ou talvez estivesse meio nublado e toda a luminosidade
que eu enxergava vinha do seu sorriso e eu, que não consigo repartir a atenção que ofereço, foquei tanto nele que posso não ter reparado direito na composição ao redor. Talvez não fosse um dia ensolarado.
Mas se não fosse, o que explicaria o calor que percorria meu corpo? O que explicaria aquele aquecimento no coração? O que explicaria aquele suor nas mãos?
Era um dia ensolarado, não há outra explicação. Só podia ser um dia ensolarado, assim como foram, magicamente, todos os outros dias ao seu lado.
Mas não importa o calor, o sol, a temperatura. Uma hora o clima muda. Sempre muda. As vezes é chuva fraca, só pra refrescar, lavar a alma. As vezes é chuva forte, por azar ou outra coisa qualquer, para limpar o ambiente inteiro. Quebrar e levar embora toda uma vida que você construiu. Mas o fato, é que ela sempre vem. Se até o sertão uma hora conhece o sabor da chuva, por que seria eu, logo eu, a exceção da regra?
Acho que você ainda lembra do temporal. Aquele do dia em que eu disse que não dava para continuar atrás de você numa velocidade e disposição de quem queria caminhar ao lado, mas que as pernas e passos curtos nunca permitiam. O tempo mudou rapidamente quando notamos esse abismo entre nós. Quando sai e fechei a porta da sua casa, o sol saiu e o céu se fechou sobre mim.
Já faz algum tempinho, sabemos. O que você não sabe é que até hoje, ainda chove e você não faz ideia de como estou inundada de desânimo e tristeza. Ah, meu bem, como faz frio aqui dentro.
Eu ainda rogo em silêncio pelo teu sol, para secar minhas roupas e minha alma.

[Ester Bessa]

Posted on 14:31:00 by Unknown

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sábado, 29 de outubro de 2016


12.08.2016

Embriagada
Pelo desejo
Pelo momento
Pela vodca barata
Daquelas que o nome termina em off
Que desligam a mente
E deixam só a carne pulsar
Sugar
Suar
Sem ar
Sem hora
Oh, senhora
De saia em tom amora
Saia que agora
Enfeita
O canto escuro do quarto
O canto direito da mente
O canto esquerdo do peito
Peito que agora
enche e esvazia
De ar denso e cinza
Cigarro pós sexo
Que sutilmente ilumina
Teu sorriso amarelo
[Ester Bessa]

Posted on 22:39:00 by Unknown

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domingo, 23 de outubro de 2016



23.10.2016


Você deixa no ar um cheiro tóxico e no seu corpo deveria estar gravado algum pictograma de perigo indicando o que você pode causar aos outros. Mas não, você não é cigarro, que vem com aviso na embalagem.

E, mesmo que fosse cigarro, ainda sim eu teria te incendiado e feito meu sangue te carregar pelo meu corpo. Eu sei que eu admiraria suas curvas que sumiriam pelo ar. Eu te convidaria para as noites de calma. Eu faria pausas no meu trabalho para conversar com você. Eu te pediria a qualquer desconhecido na rua.

Se você fosse cigarro, eu te degustaria e encobriria seu gosto com uma balinha de 10 centavos, para que não notassem seus resíduos em mim. Eu juro que teria a audácia de te acender após o fim de uma combustão com outra pessoa, a faria te saborear também e encerraríamos a noite com o teu gosto na boca. E falando do teu gosto, que me arranha a garganta, eu reclamaria dele mas cortaria parte do filtro para senti-lo com maior intensidade.


Você seria o Derby que eu critico fervorosamente, mas que vez ou outra deixo embalar minha tarde e, nem sempre por falta de opção. Se você fosse cigarro eu tossiria com escárnio e lançaria seus restos em qualquer lugar. Eu te apertaria entre os dedos e questionaria a sua aparência frágil que se tornaria mais forte que eu.


Eu não admitiria a minha dependência química da tua existência, diria que é apenas por prazer. Eu não aceitaria a reputação de viciada, porque você seria apenas um mau hábito.
Que bom que você não é cigarro. Mas você ainda me causa infinitos danos e pensando melhor, que pena você não ser cigarro, seria mais fácil achar um grupo de terapia para suprir a abstinência da droga que você é.



Ester Bessa

Posted on 15:57:00 by Unknown

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sexta-feira, 21 de outubro de 2016


Demorou, eu sei. Mas entendi. Agora, finalmente, entendi. Paixão é sentimento fugaz, imprevisível, quase sempre não é indolor. O afeto não. O afeto é sempre indolor. O carinho que sentimentos pelo outro é de graça. Não precisamos que o afeto seja retribuído na mesma proporção. Mas a paixão... Se não é devolvida na mesma intensidade, machuca. Faz o coração apertar tanto a ponto de parecer que vai encolher quando não é recíproco. O afeto pode virar amor, um dia, talvez. A paixão, com sorte, também vira amor. Mas quando não, a gente fica confuso. Não sabe se permanecemos juntos por aquele sentimento que um dia existiu, ou se desistimos. E as duas opções machucam. A paixão é maravilhosa, jamais diria o contrário. Sou um romântico incurável. Apaixonado nato. Mas a paixão, tão majestosa, é sentimento para dois tipos de pessoas: os jovens, porque se curam rapidamente desses sentimentos. Mesmo que sofram; e dos maduros o bastante, independentes, autossuficientes, aquelas pessoas que não se deixam influência pelo saboroso aroma do perfume da pessoa amada. Porque esse tipo de pessoa é paciente, não vai se deixar envolver a ponto de se magoar. E eu, infelizmente, não estou em nenhuma das classificações. Eu sou do tipo que fica sentindo o perfume do outro em cada esquina, que a cada canção encontra uma frase pra encaixar ali o nosso romance. E que quando chega a noite, tudo o que deseja é o abraço aconchegante daquele colo (que talvez nem seja assim). E pessoas assim se magoam muito. Porque esperamos demais. Esperamos que a mensagem seja respondida tão cedo quanto fôra enviada. E quando não o é, sentimos a agonia de não ser prioridade ardendo no peito. Esperamos que o outro mande recadinhos fofos e que demonstre saudade. Para que possamos retribuir com nossas juras intermináveis de paixão. Dizendo que tão logo iremos nos encontrar. E quando o tão esperado encontro não acontece... Ah , quando não acontece e a saudade chega a sufocar, aquela sensação de que agora sim, finalmente, ele está desistindo. Todo o conjunto de realidade e paranóia tomam de conta e a gente chora. Chora porque não consegue conter as lágrimas, porque não sabe com quantas outras a nossa paixão estará, em quantas camas se deitará, se ri de alegria ou de deboche ao ler aquela mensagem fofa e estúpida de boa noite. É aí que a paixão faz de nós tolos. E é aí quando gostaríamos de não ter sido tão vulneráveis. É ai que aprendemos a valorizar o afeto.
O afeto que faz de nós seguros. Que não nos cria expectativa nem mesmo paranóias. Que nos permite ouvir a banda preferida dele sem sentir palpitações ventriculares prematuras. O afeto afeta, mas não maltrata. É fato.


- Luíza Moura

Posted on 22:35:00 by Luiza

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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

(você pode ler ouvindo Joe Cocker)


Eu nunca pude fazer nada e isso ainda arde no peito.
Ainda sinto o dia que você partiu aqui, como se fosse ontem, sinto-o vivo. Cada segundo daquele dia, o cheiro da grama molhada no ponto de ônibus, o céu limpo e azul, o sol forte, mas o vento gélido, mostrando que a qualquer momento poderia chover. E choveu. A chuva não veio do céu, dessa vez veio em formato de lágrimas - escorrendo pela minha face, dispersando-se por todos os lados, bochechas, lábio, pés e a grama. Até hoje, não sei se a grama estava verde pela chuva que havia caído naquela semana ou se chorei tanto que não conseguiram secar. Exagerada? Sempre. Mas foi assim que me senti aquele dia. Passei horas caminhando sem rumo pela cidade porque eu sabia que chegar em casa e não ter você seria muito doloroso.
Sei que eu tomei a decisão de não entrar naquele ônibus. E em todos os outros com destino ao nosso amor. Meu coração com destino ao teu. Não entrei nesse ônibus. Não me juntei a você. E essa foi apenas a primeira vez em que, por culpa da minha falta de fé no amor, do meu medo de abandonar tudo pra viver ao teu lado, fizeram-me perder a chance de ficar pra sempre ao seu lado. Tivemos muitas outras chances depois, em todas eu congelei. Nunca vou esquecer do teu olhar para mim, quando estávamos no banquinho lá do alto daquele pequeno morro, onde podíamos avistar boa parte de Goiânia, aquele seu olhar de quem espera que dessa vez vá dar certo - dessa vez ela vai ter coragem o suficiente - não tive. Ou quando eu simplesmente não entrei mais uma vez eu não peguei aquele voo pra ir te encontrar e conversarmos. Eu sabia o que você diria. Eu sabia que você estava pronto para viver aqueles nossos sonhos. Correção: seus sonhos. Porque eu nunca os sonhei, não é? Sinceramente, bora bora nunca foi o meu sonho de lua de mel, eu não queria um labrador, quanto aos filhos... Eu, tinha apenas 16 anos, não pensava em filhos. E agora, quase dez anos depois eu desesperada para tê-los. E, talvez, nunca os tenha. Sei que não será com você. Essa é a minha única certeza hoje: Nada mais será com você. Porque eu já perdi todos os ônibus e vôos possíveis. E outra o pegou, certamente. Se eu me arrependo? Talvez.
Talvez eu pense um pouco na nossa casa com gramado verdinho, com um quintal enorme onde as crianças poderiam correr e brincar com o nosso labrador. Talvez eu delire de vez em quando com nossas viagens a Bora Bora e Coimbra. E com a sua toga negra pendurada ao lado do meu jaleco branco no armário, a nossa biblioteca enorme onde você vai passar longas horas estudando e escrevendo para mim. Nossos três filhos pendurados em você quando eu chegar de um plantão exaustivo, e a unica coisa que pensaria seria em me juntar a vocês na brincadeira qualquer que fosse. É, talvez eu pense um pouco na vida que eu abri mão, talvez eu sonhe um pouco com uma vida assim hoje.

Arrependo-me de não ter ido na primeira vez. As vezes, me pego pensando em como teria sido se eu fosse até o aeroporto. Eu choraria? Acho que não. Naquela época eu era mais forte. Jamais choraria em sua frente. Eu te pediria pra ficar? Você me convenceria a entrar no avião? Talvez tentaria. Me diria o quanto eu amaria o Rio e me pediria pra embarcar. Eu teria coragem? Gostaria de ter sido essa pessoa corajosa, não fui. Nunca fui corajosa com você. Nunca me esforcei para ser. Mas quer saber, talvez seja melhor assim. Porque, apenas hoje, eu descobri que nós jamais viveríamos aquela vida que você desejava pra nós. Porque mesmo eu te amando profundamente e você sonhando todos esses sonhos para nós, você nunca foi o amor da minha vida. Você foi apenas um grande amor, talvez tenha sido até o mais bonito, mas apenas isso não basta.  O tempo passou e eu vivi a vida da melhor maneira que eu deveria tê-la vivido, só então eu compreendi o porquê de eu nunca ter sido corajosa o suficiente para amar você. 
Grandes amores épicos juvenis não foram feitos para durar mais do que quatro dias, Romeo e Julieta que o diga. Ainda duramos o bastante.
Espero que você também entenda.

Não mais sempre sua, ex namorada.







- Luíza Moura

Posted on 21:23:00 by Luiza

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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

(Você pode ler esse texto ouvindo Stay)

- Eu quero que sejamos apenas nós. Porque nesse momento sou apenas uma garota, parada em frente à um cara, tentando dizer algumas coisas, que talvez não saiam exatamente perfeitas como imaginei.
Não quero conhecer outras pessoas, nem que você as conheça também. 
Quero te apresentar aos meus amigos e que você conheça os meus pais. Nos domingos, quero que me acompanhe aos almoços na casa de alguma tia. Quero que você não seja mais tão só nessa cidade de concreto. Te fazer feliz e ser o teu lar. E quando você viajar, quero que conte as horas pra voltar. Por mim, pra mim. Quero status de relacionamento sério no facebook, fotos fofas e bobas no Instagram, fim de semana acampando ali no Goiás e férias em minas gerais. Quero que você conheça a cidade natal dos meus pais, onde vamos tomar sorvete na pracinha, assim como minha mãe fazia quando era adolescente. Passear de mãos dadas pelo Barreiro, enquanto eu falo sem parar sobre como eu gostaria de ter crescido ali, ou conto sobre a história do lugar, evidenciando o quanto sou fã da Dona Beja e como adoro pão de queijo e todos aqueles doces da loja dona joaninha. Quando passarmos em frente à igreja matriz, quero poder dizer, sem medo, que é ali - aqui onde eu sonho casar - dizer isso sem medo de você achar que estou indo rápido demais com esses sonhos matrimoniais. Porque vai entender que é só um desejo. E talvez, vai desejar também.
Eu só quero que exista um nós. Com aliança no dedo ou não. 
Poder te observar dormir sem parecer uma louca paranóica.
Eu não preciso que você seja o cara mais romântico do mundo. Nem que entre nós exista clichê. Não preciso que venha perfeito, nem com flores, vinho e violão. Só preciso que venha. Que seja você. De corpo e alma nu. De coração entregue e aberto. Não quero que tente me amar. Não preciso que se esforce. Só preciso que sinta e só quero o que for reciproco. E se não for, meu amor, eu vou embora, torcendo para que, quem sabe, a qualquer hora, você retorne e diga que também quer. Que quer que hoje seja sério. Que seja nós. 


*"Sou apenas uma garota, parada em frente à um cara, implorando a ele que a ame." E ainda estou esperando.



* A frase é de uma cena do filme Um lugar chamado Notting Hill.

Posted on 19:46:00 by Luiza

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quarta-feira, 5 de outubro de 2016




Hoje observei um casal feio no ônibus voltando para casa. Ela, uma menina de 20 e poucos anos, com um cabelo azul desbotado (ou lilás, não sei), com um ar descolado. Ele, pouco mais velho, estilo de guri largado, despreocupado. Nenhum dos dois era dotado de beleza, não a beleza padrão imposta pela sociedade. Mas observando-os eu só pensava em nós dois. Não pela aparência daqueles dois seres tão simplórios, porque estamos longe disso, mas pela forma como ele a acariciava. Ele ali de pé a protegendo em cada curva mal feita realizada pelo motorista do ônibus, que apresentava rugas de estresse e cansaço. Acariciando suas bochechas e tocando-lhe o mento. Ele falava de amor com as mãos. Ele lhe dizia "eu te amo" em silêncio, apenas a olhando com aquele olhar. Sabe aquele olhar de quem encontrou o amor da vida e não precisa mais esperar? Era esse. O mesmo que um dia vi em seus olhos. E ela sorria, como se aquele riso o respondesse, o seu riso dizia o quanto aquele amor era recíproco. Por um instante senti inveja daquela pobre menina, ela tinha tanta sorte, ela era tão feliz quanto eu jamais seria. Ele não a levara em casa de Mercedes, como eu já fui trazida. Ela, muito provavelmente, nunca viajou pra lugares tão lindos e se hospedou em hotéis tão caros como eu já. Ela nunca pôde dizer que namorava um médico, como eu já pude dizer. E nunca vestiu roupas de grife ou sapatos mais caros que um allstar. Nós não tínhamos nada em comum. Espera. Tinha uma coisa sim. A forma como ele a olhava, eu também já fui olhada daquela maneira. Lembra? Eu já tive a bochecha acariciada daquele jeito e já fui protegida daquela forma. Por você. Mas eu não soube entender aquela felicidade. Porque não tinha nada que eu reconhecia ali. Eu nunca soube reconhecer o amor até hoje, observando um casal totalmente fora dos padrões. Eu percebi que não há padrão para amar. Por isso eu a invejei, ela encontrou o amor e soube aceitá-lo mesmo que ele seja assim, simples, andando de ônibus em um dia chuvoso. Eles tem amor e só isso basta, era nítido no olhar. 
Logo em seguida senti uma estranha felicidade por ver aquilo. Aqueles minutos ao lado do amor, pensando em quanto fui sortuda por te conhecer e tão estúpida por te deixar ir, mas eles estavam ali , provando que o amor existe e é lindo. Então, estou aqui, tomando coragem pra escrever e dizer o quanto você me fez feliz cada vez que me olhou daquela forma, em cada toque teu, cada abraço caloroso e em cada minuto que se preocupou em está aqui ao meu lado. 
Sinto muito por sentir tanto e não ter te contado.

Posted on 02:30:00 by Luiza

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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

(Você pode ler ouvindo - Primavera)

Do porteiro do seu prédio ao senhor que vende doce na rodoviária, todos por quem passamos do caminho da sua casa até a minha, já notaram que desde que você chegou é primavera em meu riso. 
As minhas amigas já sabem e os meus primos também, que quando o celular vibra, eu vou correr e corar ao ler o que quer que seja a mensagem que você enviou, na verdade, só de ler o teu nome no visor do celular eu já sou toda risos. 
É primavera, meus pais notaram.
A vida parece florir o tempo todo. 
Mas quando estamos juntos é como verão. É verão quando você me beija e nossos corpos se encontram, se reencontram. E a cada encontro é como um dia ensolarado de um verão carioca. Quente, intenso e lindo! E é só te ver sorrir pra eu florir de novo. E de novo.
É primavera em meio ao verão. Talvez, sejam todas as estações.
É sossego em meio a todo caos dessa paixão intensa que me faz ofegar, com beijos e carícias, que eu adoraria se fossem infinitas. Mas a noite sempre chega, assim como o inverno um dia há de chegar!  E não podemos ser verão o tempo todo. E, às vezes, eu não vou florir.
Mas mesmo quando você não está perto. Mesmo que esteja a km de distância, ainda sinto o cheiro de primavera aqui, mesmo que o outono chegue, que o verão acabe, que a temperatura esfrie, enquanto tiver a certeza que amanhã vai chegar e amanhã vou te encontrar de novo pra sentir a primavera enchendo meu pulmão com mais um pouco desse cheiro doce de paixão, enquanto descanso em teu peito, entrelaçando nossos dedos , como uma referência a vida que gostaríamos de ter juntos, enlaçados, pra sempre naquele instante. Desejando a cada segundo que o tempo ao nosso redor congele, que não existam mais km, fusos, solidão. Que não exista mais dúvida, desespero, insegurança. Que só exista eu e você. Nós. Com os corpos entrelaçados um ao outro, sem respirar pra que nenhum espaço se crie entre nós. 
Do segurança da faculdade ao palhaço do semáforo.
Da minha melhor amiga a teu amigo de infância, 
Todos já sabem, todos notaram, a maioria desconfia, exceto nós dois:
É primavera e o amor floresceu em nosso peito!


Ps. Esse é pra alguém, e esse alguém sabe quem!

Posted on 18:25:00 by Luiza

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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Resultado de imagem para amigas tumblr despedida


Hoje você partiu, não é a primeira vez, mas dessa vez é diferente. Da outra ainda tinha a esperança de que você fosse voltar. E voltou, mas diferente. Voltou com o mesmo rosto, o mesmo sorriso e o abraço... Ah, o abraço! Que falta me fez esse abraço durante esses quase dois anos sem te ver. Que falta me fez todas as férias solitárias sem você, os feriados, fim de semana, natais e viradas de ano sem você. 
Tudo mudou desde que você partiu a primeira vez. A sua vida seguiu. Casou e trouxe ao mundo a bebê mais linda do mundo, aquela que eu já amava com toda a expectativa de conhecê-la, antes mesmo de nascer. E a amei mais ainda após tê-la em meu colo, aninhada em meu peito, como se já tivéssemos uma conexão. Talvez ela simplesmente sentisse o quanto foi esperada e amada por essa tia bobona aqui. Eu gostaria de ter estado la durante essa espera, gostaria de tê-la acompanhado em pré-natal, ter sido uma das primeiras a ver o rostinho de nossa Belinha ao nascer. Mas a vida aconteceu para nós duas. E nem nosso melhor sonho (ou pior), poderíamos imaginar tantos km nos separando. 
Hoje você foi embora, agora mesmo está dentro de um ónibus a caminho da sua casa, esta que um dia espero conhecer. E eu, mais uma vez não pude te abraçar pela última vez. Não pude me despedir e dizer tudo que eu sempre quero dizer e não consigo. Eu não sou boa em falar de sentimentos, por isso decidi escrever. Escrever sempre foi a melhor maneira de me expressar. 
Lembra quando brigávamos e eu queria fazer as pazes e só conseguia fazer isso escrevendo e jogando o papel em você? E você sempre me perdoava pelo ciúme, pela falta de jeito e pela brutalidade do meu ser nada meigo. Você sempre esteve la por mim. E eu gostaria de ter feito o mesmo por você. Você sempre cuidou de mim, mesmo quando não sabia nem cuidar de si mesma. E eu só tenho a agradecer por tê-la na minha vida, na minha familia. Você sempre vai ser a minha irmã, não importa para onde o destino nos carregue. Nada nesse mundo vai tirar a importância e o amor que é só teu... e agora da Belinha também. 
Obrigada por tudo que aprendi com você. Por nunca me deixar fazer as coisas erradas que eu queria fazer. Ou fazê-las comigo só para garantir que eu não fosse me magoar. Obrigada por todo colo, abraço, por nunca esquecer o meu aniversário, por nunca esquecer de mim.


Eu te amo, minha melhor prima, amiga e irmã.

P.s. Nunca escrevo texto para ninguém no blog, mas esse merece. Para minha amada B, com todo amor do mundo.

Posted on 08:26:00 by Luiza

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segunda-feira, 26 de setembro de 2016



Não dá. Tentei. Tentei muito dessa vez. Mas vou embora novamente. Vou saltar do carro em movimento, porque a dor do corpo arrebentando-se ao chão será menor que correr o risco de ficar tempo o suficiente para que brote amor e o carro entre em colisão logo depois. Vou frear, pois estou indo rápido demais. Eu só sei ir rapido demais, garoto. Gostaria de saber fazer charminho, demorar pra te responder e, quem sabe, nem responder. Fingir que não me importo. Que você não é assim , lá essas coisas todas. Mas não sou assim. Ao menos não quando o que eu mais quero está aqui, parado a minha frente com um sorriso tímido-delicioso. Com esses olhos brilhando cada vez que olha em minha direção. Não sei me conter, porque eu transbordo. E nesse momento, meu bem, só transbordo amor, e é por você. 
Entao, não dá mais. Sinto muito. Preciso ir. Porque se eu ficar mais um minuto, vou querer ficar pra sempre. E não posso correr o risco de permanecer aqui, sem saber se a tua intenção é me pedir pra ficar. Sem saber se você quer ficar. Não dá pra esperar uma reação tua. Porque a falta de reação, para mim, já diz muito. Eu que sempre lidei muito bem com silêncios, apesar de preferir as palavras. E sempre que eu permaneci em meio a ele, estive errada. Deveria ter ido. Como devo ir agora. Me perdoe. 
Eu sei que estava gostoso aqui, que os nossos braços se entrelaçam, que o nosso corpo se encaixa feito peça de quebra-cabeça. Assim como nossos lábios fazem uma dança inteira colados um ao outro. Como se cada átomo do meu corpo estivesse em sintonia com cada átomo do teu. Cada partícula, molécula, célula do meu corpo estivesse se unindo a você. Mas essas partículas precisam ser divididas. Células são feitas para serem multiplicadas, não é?Divididas. Não sei. Não sei de nada, pra falar a verdade. Por isso eu faço a única coisa que aprendi a fazer - eu fujo, corro e choro baixinho, escondendo os olhos vermelhos de todos. Choro porque é difícil te ver e ter que partir. Porque não é fácil sentir que encontrou tudo o que sempre sonhou e ter que deixa-lo ali, pra que outra pessoa o encontre também. E talvez, essa outra pessoa nem saiba o quanto você é importante. O quanto você é único. Talvez, ela nunca veja o quanto você fica lindo quando, tímido, toca violão pra alguém. Como você encanta, mesmo em silêncio. E, talvez, ela nunca veja o mundo inteiro no brilho dos teus olhos castanhos. Eu vou chorar porque sou uma puta de uma covarde que não consegue se contentar com um pouco de felicidade momentânea. Essa mania de querer demais, de amar demais, de te querer mais e mais. De me apaixonar quando menos esperava. De encontrar em você tudo que eu sempre desejei. Mania de não saber esperar e ver no que dá, de não confiar no destino, na vida, em Deus ou seja la o que foi que te arrastou feito furacão pra minha vida. Mania de achar que não mereço, que a cota de um bom amor na minha vida já se esgotou a muitos anos e que não tenho como pagar por mais. E nem posso solicitar uma amostra extra desse bom amor. Não tenho como sobreviver a isso. 

Então, me perdoe, mas estou fugindo.

E você, o que vai fazer?

    - Luíza Moura

Posted on 21:51:00 by Luiza

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quarta-feira, 21 de setembro de 2016


Falar não é fácil quando não se sabe ao certo como o outro irá reagir. Quando não se sabe a hora certa de dizer "estou apaixonado". Mesmo se querendo tanto dizer.
Você já olhou para alguém e conseguiu enxergar o mundo através dela?
Já a viu sorrir e pensou que o chão abaixo dos seus pés estivesse sumindo, levando-o a uma queda profunda em um abismo? Esse abismo? É o abismo da paixão, meu amigo. E eu estou constantemente caindo nele. Sempre que o vejo.
Com aqueles olhos meigos e intensos. São olhos castanhos comuns, como o da maioria dos milhões de brasileiros possuem. Mas ainda assim... Ainda assim são tão únicos. Olhos de abismos. E mais uma vez eu caio profundamente dentro deles.
Cheguei a um ponto em que já nem tento mais desviar do seu olhar, encaro-o na esperança de, quem sabe, me encontrar, perdida, ali dentro em meio aquele brilho. Brilho esse que ainda não consigo identificar o motivo. Seria eu? Muita presunção acreditar nisso. Talvez. Mas o coração pulsa mais acelerado por qualquer pontinha que seja de esperança. O coração só quer um motivo que justifique o pulsar acelerado de quem quer mais daquilo, mais de nós. E é ele quem tem todos os motivos. Todos os abismos em que estou, completamente, disposta a me jogar.
De cabeça e sem paraquedas.
Falar não é fácil quando a boca só quer calar. Ser calada por aqueles lábios cor rosa claro, perfeitamente tracejados, em um desenho que mais parece um coração.
Ah, aqueles lábios! Jamais encontrarei outro igual. Nenhum jamais foi tão macio, delicado e quente como estes. Nenhum jamais trouxe tanto desejo e tanta ternura.
Ele é feito de ternura dos pés à cabeça.
Por isso é tão difícil falar, quando os nossos pés se encontram entrelaçados, fazendo um nó de nós, durante aqueles minutos pós sexo. Precedendo todo o amor que está aqui, guardado, esperando uma chance pra saltar.
E é difícil falar de amor quando ele ainda não veio, quando ainda só existe num lugarzinho, iluminado, profundo, dentro do peito da gente. E a gente não sabe se sente ou espera mais um pouco.
A gente não consegue falar porque falar torna real. E tornar o amor real, como disse Nando Reis, é expulsá-lo de você pra que ele possa ser de alguém.
Mas a gente não sabe se o alguém o quer. E isso da um medinho absurdo de que toda essa magia acabe no real. De que não haja mais corpos entrelaçados na maciez de uma cama em plena terça-feira, porque a vontade de se consumirem era grande demais pra esperar mais um pouco. Nem músicas transformadas em trilha sonora ou despedidas tão longas quanto puderem durar, porque já se sabe que a saudade vai ser grande, então melhor aproveitar. Quando se deseja tanto, enquanto está ali a admira-lo dormir, dizer eu te amo e não vou fugir. Mesmo sabendo que vai fugir ao menor sinal de desinteresse.
Por isso é tão difícil falar quando não se sabe o que o outro gostaria de ouvir. Se gostaria de ouvir...


Não vou fugir, quero me jogar nos teus abismos. Me abraça!

- Luíza Moura

Posted on 22:17:00 by Luiza

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sexta-feira, 16 de setembro de 2016



Hoje eu não quero discutir política, misoginia, LGBTfobia ou racismo. Debater sobre as lutas de classe, pensar sobre uma revolução que derrube esse sistema e que horizontalize a sociedade ou sobre o quão certo (ou errado) o Duvivier estava por escrever o texto para a Clarice (ou para a produtora do novo filme deles).
Não que eu não ache esses temas importantes. Quem me conhece sabe o tamanho do espaço que eles ocupam na minha vida.
Uma vez eu estava numa aula da Djamila Ribeiro – minha eterna musa – e ela nos disse que é comum militantes adoecerem. Lutar consome muito das nossas vidas e energia.
Acho que estou doente.
Sinto como se eu estivesse em meio ao mar alto e revolto devido a tempestade. Sinto como se estivesse afogando. Eu realmente tento nadar. Não pretendo sucumbir. Mas, a verdade é que eu estou perdendo essa luta. Sempre que penso estar em vantagem vem uma onda e me prova o contrário. Olho em redor e não vejo ninguém. Só há eu, o mar e a tempestade.
Não há ninguém porque eu não consigo chamar por alguém. Esse sempre foi um dos meus principais bloqueios. Me acho meio Maria do Bairro ao falar dos meus problemas aos terceiros.
De vez em quando o mar transborda. Ele vem do fundo da minha alma e acha saída nos olhos. Óbvio que isso acontece em meio à solidão. Se falar de mim já é uma questão, quiçá externalizar o caos que carrego na mente.
Ao contrário do que deve estar pensando, eu sou uma das maiores amantes do humor que você provavelmente conhecerá. E a minha parte favorita em meio a isso tudo são as “soluções” que as pessoas me apresentam. Sempre tão simples. Sempre tão fáceis. Sempre tão rasas. Só que eu carrego um universo em expansão no peito. É algo ruidoso, grande, forte, complexo.
Eu realmente preciso de alguém. Um psiquiatra, um terapeuta, Jesus, Buda, Oxóssi, alguém. O problema é que eu não sei quem. Ou aonde encontrar.
Se me vir andando por aí, por favor, não venha me consolar, eu tenho alguns problemas com toque e odeio abraços de consolo. Profundamente.
Hoje eu precisei falar de mim. Pra mim. Eu precisava fazer algo. Eu sei que soa dramático, exagerado, carente, mas foi o melhor que consegui fazer.
Eu não me arrependo de nada, mas queria fazer parte da massa.

#SetembroAmarelo

Milla Carolina.

Posted on 13:55:00 by Unknown

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domingo, 11 de setembro de 2016

(Você pode ler ouvindo - sei)

Eu nunca vou te dizer que aquela noite foi uma dessas uma em um milhão, em que a gente sente vontade de apertar um botão de "pausa", só para poder continuar vivendo aquele momento por mais alguns minutos.
Eu nunca vou te deixar saber que quando eu te pego me olhando não são apenas meus labios que sorriem.
Perto de você o coração ri o tempo todo.
Perto de você, eu sou toda sorrisos.
Mas eu nunca vou te contar.
Que quando sua mão percorre minha coluna e todo o meu corpo é mais que apenas tesão, muito mais.
Você não sabe, mas quando dormimos juntos, acordo no meio da noite só para conferir se você ainda está ali, você existe e está ali de verdade, com os braços envolvendo meu corpo. Isso aquece o coração e acalma a alma. 
Mas você nunca vai saber.


Que quando eu fico te olhando daquele jeito, aquele jeito, sabe? Aquele olhar de desejo e ternura. Que a gente olha, sem acreditar, que, finalmente, encontrou alguém que reúne tudo que buscamos. Alguém que nos faz sentir tesão, desejo, paixão e ao mesmo tempo nos trás paz, alguém a quem poderíamos facilmente amar. Quem sabe? 
E é só pra você que olho assim. 
Por isso quando me pergunta que jeito é esse de te olhar, nunca encontrei palavras simples para dizer. Não soube te explicar.
E isso é tudo que eu nunca vou dizer a você. 

Posted on 19:33:00 by Luiza

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(Você pode ler esse texto ouvindo: Chet Faker - Talk is Cheap)

Tem coisas que a gente sente e não diz. Porque, talvez, não seja o momento certo, ou porque não temos certeza. Não temos certeza nenhuma além do coração acelerado no peito, dos olhos brilhando e essa, incontrolável, vontade de sorrir aos quatro ventos o tempo todo.
Tem coisas que a gente quer dizer, mas tem medo do silêncio constrangedor do outro lado.
Então, a gente cala.
A gente cala o carinho com beijos quentes ininterruptos.
A gente cala um "eu amo você" com um "se cuida, tá".
A gente cala um pouco hoje, por que, quem sabe amanhã a gente fala, não é?
Não, não fala.
Porque calar é muito mais fácil.
É só colocar a culpa no outro por nunca ter dado um sinal de que deveriamos falar. E pronto. Vida que segue.
Colocar a cara pra jogo e se entregar é difícil.
Se entregar pode machucar.
Então, a gente se cala,
e deixa o amor passar.

Mais uma vez.

- Luiza Moura

Posted on 17:02:00 by Luiza

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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Você não foi, mas também não ficou. Onde está você então?



O amor não acabou, mas não estão mais juntos, não são namorados, nem amigos. Mas o amor está ali. Está presente quando ela usa uma desculpa qualquer pra telefonar pra sua irmã e tentar descobrir como você está. Ou quando você a persegue virtualmente nas redes sociais, tentando, de alguma forma, descobrir se algo mudou, se alguém apareceu e tomou o seu lugar. Mas nada mudou, caro amigo. Ela bem que tentou, sabe? Tentou preencher a tua falta com tequila, mas no dia seguinte percebeu que não era uma boa ideia. Conforme a dor de cabeça aumentava, crescia também aquele sentimento de que com você a vida era mais fácil. Depois tentou conhecer novas pessoas, viajar sozinha, ir ao cinema sozinha, ao parque, ao bar e a todos os lugares que você já havia lhe feito companhia, ficar sozinha era confortável, mas só a fazia perceber o quanto apreciava tê-lo ali, pertinho, ao lado. Então, procurou preencher-se em outras camas, carros, motéis ... Nem preciso dizer o quão frustrante foi, não é? Se deitar ao lado de outro que não a conhecia como você, que não encontrava os seus pontos de prazer e mal sabia abrir o seu sutiã. Frustrante. Parou de tentar. Parou de tentar colocar algo ou alguém no lugar que somente te pertence. Sentiu-se inútil por não conseguir seguir em frente. E a cada notícia sua, de que você estava feliz ao lado de outra, era como se houvesse uma descarga de adrenalina em seu corpo e ela ficava ali, por horas, sem saber se fugia ou lutava, se iria atrás de você e implorava pra que não deixasse isso acabar ou se partiria para a próxima cama. Para. Respira. Não pira. Repetia pra si mesma como se isso a fizesse se acalmar. Decidiu não fazer nada. Porque, no fundo, ela sabe, você sabe, sua irmã sabe, eu sei, a melhor amiga sabe, e até mesmo sua atual sabe, o amor não acabou. E talvez nunca acabe. Só resta saber:
Você vai ou fica de uma vez por todas?

Posted on 21:15:00 by Luiza

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sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Por: Sebastián Criado/DELEGAÇÃO NINJA


É cada sorriso, é cada abraço, é cada desconstrução, é cada puxão de orelha com essas pessoas convivendo diariamente e conhecendo a fundo cada pessoa. Tanto conhecimento junto a fim de repassar a todos e todas, compartilhando juntos cada nova aprendizagem, tudo sem a exigência de algo em troca. Algo como notas num boletim. Algo como notas em papel moeda na conta. Essas coisas não são exigidas. O que se é exigido, apenas, é o tesão pelo que se ama. E como amam essas pessoas tudo o que fazem. Essas pessoas, de todos os lugares diferentes do mundo se unem em prol de um único objetivo. Amar. É, isso mesmo. Amar. Amar a vida de todos a ponto de largarem suas culturas, seus amores, suas famílias, suas cidades, seus estados, seus países. A ponto de dormir sem estarem ao lado de seus filhos e filhas. A ponto de dormirem várias pessoas na mesma cama sem se conhecerem e saberem que nada de ruim irá acontecer a nenhum. Que o cansaço e a falta de dormir vale. Que se tá soando é porque tá bom. Que se tá chovendo spray de pimenta é que tá ótimo. Que se te expulsam de um lugar é porque o seu trabalho dá medo às autoridades. Todo mundo se conecta de uma forma inexplicável a ponto de todos sentirem a dor de uma mordida canina no companheiro, de sentir a agressão de uma outra companheira. Toda essa mutualidade só acontece quando todas essas pessoas se propõem a fazer algo que reverbere positivamente na sociedade. E vou ser totalmente redundante de novo, sem medo de ser feliz. Isso só acontece porque cada um e cada uma carrega amor, transpassa amor. E tem um tesão por perceber esse amor reunido. Tudo se encaixa tão rapidamente. Tão sem querer querendo. É como encaixar a marcha no seu carro de forma perfeita. Pisar na embreagem e fazer o trajeto da alavanca, que aciona engrenagens dentro da caixa de marcha, que aciona o disco de embreagem, que acopla ao disco do motor que está em alto movimento. E o carro se movimenta. Tudo se conecta, a galera das redes, a galera do design, a galera do áudio visual, a galera da cobertura em tempo real, a galera da fotografia, a galera do texto. Essa simbiose alucinante é foda! O tesão é foda! E amor prevalece!


Por: Alexandre Choque/DELEGAÇÃO NINJA


Somos todxs, NINJA! Narrativas independentes, jornalismo e ação. Ou seja, é um olho em você, um olho nas pessoas que estão contigo, e os dois olhos na ação. Se envolver é preciso. É preciso fazer parte do todo. Você não é diferente dos que estão lá se manifestando, perdendo a vida, de quem também está apenas se divertindo. Você, nada mais, nada menos, é o povo. É parte da massa. Tudo que sofrem, tu sofre também. Não é apenas empatia. É ser parte. E fazendo parte você pode dizer a verdade sobre tudo o que vê. Cada clique meu pertence não só a mim, mas a todos que fazem parte. Por vezes ou outras acabo tendo lapsos e me desconcentrando perco o foco, como todxs. Mas há algo dentro de cada um que te faz voltar à realidade com um novo pique e um novo ânimo. Ainda não sei explicar esse algo. Acredito que seja aquilo que os filósofos ainda não criaram e que os poetas jamais conseguiram transpassar em palavras. Só posso dizer que tudo se resume a utopia e o sentido de Ubuntu. A utopia porque queremos dormir, mas ainda queremos acordar e continuar a caminhar. Ubuntu porque todos somos. É como esse trecho de uma poesia de Mário Benedetti: te quiero porque tu boca/sabe gritar rebeldía/si te quiero es porque sos/mi amor mi cómplice y todo/y en la calle codo a codo/somos mucho más que dos.


Por: Sebastián Criado/DELEGAÇÃO NINJA

Por: Sheyden Souza/DELEGAÇÃO NINJA

Por: Sheyden AfroIndígena/DELEGAÇÃO NINJA



Por: Luciano da Luz/ Delegação NINJA





Por: Delegação Ninja
É isso, só isso. Somos muito mais que duas ou três pessoas. Somos muito mais que uma só nação. Somos muito mais que apenas pessoas vegetando. Aquela pessoa que está ao seu lado é a sua maior aliada, ela está contigo e você está com ela. E é isso o que importa. A confiança na parceria da luta te eleva e te faz levantar de novo e fotografar mais. Escrever mais. Criar mais. Viver mais. Vivir la utopia, esse um dos maiores lemas da guerra civil espanhola que reverbera até hoje por toda a sociedade em luta. E consigo enxergar em cada rosto, em cada detalhe, isso. Cada ser aqui vive sua própria utopia para que todos possam vivê-la de forma real. Esse é o preço estampado no papel moeda que ganho quando saco um sorriso do rosto.

Posted on 14:04:00 by Unknown

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sábado, 16 de julho de 2016


É foda ser preto.
O mais foda é quando roubam a nossa negritude. Quando um preto nasce, se ele não for filho de militante ou ter contato direto e constante com alguém que luta pelas e com as senzalas, essa criança terá a sua negritude roubada.
A primeira química que fiz no meu cabelo, eu tinha 5 anos. Exatamente. Porque meu cabelo “armava muito” e assim seria possível “domar os cachos”. Nunca mais usei o meu cabelo natural. Estou em transição capilar há quase um ano e digo com franqueza: Não há um só dia em que eu não pense em desistir. Acontece que a minha negritude foi roubada de mim, pouco a pouco, diariamente. Toda vez em que me diziam que “cabelo liso é mais bonito”, ou quando os meninos escolhiam somente as brancas para se relacionar, ou quando rolavam as “piadinhas” e todo o grupo ria, ou ainda quando atravessavam a rua ao me ver, ou era perseguida pelos seguranças no shopping, eu tinha a minha negritude roubada. Desde que nasci, a sociedade tenta insistentemente me provar o quão “ruim” é ser negro e o quão “sortuda” eu era por ser “negra de pele clara”. 
Eu demorei 22 anos da minha vida para começar a me entender como negra. Um dia eu me fiz a pergunta: Se eu estivesse no Brasil escravocrata, eu moraria na senzala ou na casa grande? Pronto. A negritude começou a aflorar e a partir daquele momento eu passei a entender o que é o racismo à brasileira.
Para quem não sabe, o Brasil passou por um processo de embranquecimento. A vinda do nono e da nona era majoritariamente para embranquecer e ajudar no progresso da população local, já que as brasileiras - miscigenadas - eram muito inférteis e pariam filhos improdutivos e preguiçosos, como as mulas. Daí o termo mulata.
Isso ficou enraizado na nossa cultura de tal forma que muitos negros, até hoje, negam a sua negritude. Porquê? Porque ela nos é roubada. O orgulho de ser negro, de subir um black, da pele escura, do nariz largo nos é roubado.
Uma vez eu estava conversando com um grupo de amigos sobre o holocausto e como os alemães se sentem sobre ele hoje em dia. Eu disse que o nazismo foi e sempre será uma das principais desumanidades na nossa trajetória, junto com a escravidão. Mas a diferença é que boa parte dos alemães entendem e assumem o que aconteceu ali (óbvio que sempre tem o saudosista do Reich que exalta a inteligência de Hitler e seus aliados deixando de lado as 6 milhões de mortes que tamanho “gênio” proporcionou). Não é assim no Brasil com relação a escravidão negra. O brasileiro não se assume racista. E como preta que sou digo-vos: se tem um país racista, é o nosso.
Poucas pessoas entendem a diferença da militância negra americana para a nossa: Como os EUA não passaram pelo processo de embranquecimento, a negritude norte-americana sente - desde o nascimento e de um modo geral - orgulho de assim o ser. Aqui não, ela é roubada.
Não nos ensinam sobre Dandara e Zumbi. Não toca racionais nas festas. Funk é coisa de preto, pobre e favelado. Angela Davis não é leitura obrigatória na academia (com muita luta, ela será citada em uma aula ou outra). E assim, o negro se sente obrigado a ceder ao atual processo de embranquecimento e a negar a si próprio.
Acontece que uma hora a luta te acha e te arma. Você toma para si de volta a sua negritude e passa a vestir preto por dentro e por fora.
 Aos pretos que estão lendo esse texto: o racismo é foda.
Só que a nossa negritude é mais foda ainda.
Ser preto é foda.

Milla Carolina.

Posted on 18:49:00 by Unknown

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