segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Te deixei na minha pele, qual seria a outra maneira de ecoar ou transparecer o teu amor?
Te sorri aos ventos, calei-me com o fogo sagaz do que chamamos de nosso – O toque das tuas mãos transcende e dilui minha alma.
Te abandonei em meus versos, o que seria de mim sem você?
E de tudo que me fizeste sentir, você me fez calar a alma com o teu amor.
 O amor não é apenas se entregar e esperar a rotina do desapego chegar, é amar até o ponto de te calar, sim, calar.
Calar aquilo que faz os teus demônios gritar.
E por fim,
Te beijei porque foste a maneira mais linda de me fazer tua.
Te deixei na minha pele, qual seria a outra maneira de calar os meus demônios sem ter aquilo que chamamos de nosso?!


-Beca Vieira

Posted on 19:15:00 by Beca

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segunda-feira, 26 de junho de 2017

Sou péssimo em deixar as coisas irem. Sou péssimo com despedidas e finais. Sério, qualquer pessoa que leia meus poemas vai ver que nenhum tem fim... Parece masoquismo, gostar de sofrer só que não é. Eu deixo as coisas me ferirem pra libertá-las. Parece que sou mimado, uma criança que não larga os brinquedos dos colegas. Impulsivo e, muitas vezes controlador. Não gosto de coisas. Grito sozinho que detesto. E sigo. Coisas que machucam deixo elas ali, porque seria melhor ter algo ruim que não ter nada. Não sei identificar boas coisas. Só ruins. A merda da vez é não conseguir enviar documentos pra ter algo que necessito. A outra merda é não me sentir capaz de fazer cosias que sei que sou extremamente capaz. Me entulho de coisas e me auto saboto o tempo todo. Todo o tempo desacredito de mim. Sou péssimo em me despedir. Sou um adulto que não se vê capaz de tantas coisas. Apesar de saber que sou o mais capaz que posso ser.

Desisto tão fácil. Nem parece pra quem mal me conhece ou me conhece há tempos. Eu sou ótimo ator. Finjo bem. Faço de tudo pra ser chato pra que as pessoas que gosto se afastem. Faço bem por sinal. e quando não faço bem sou eu quem se afasta. Eu só queria entender quando isso tudo começou... Nem sei. Ninguém sabe. Estou farto de mágoas. Doou mágoas. Alguém aqui quer? Recomendo a quem nunca sentiu nada ruim. Recomendo. Leve duas pelo preço de meia tonelada nas costas.



Eu só queria poder ser fraco e não ter que aguentar a levar toneladas nas costas. Nunca permiti que quanto a isso fosse fraco. Porque não me deixo ser fraco? Quem além pode responder? Não sei. Preciso me livrar do peso. É tão grande. Dói e acabo machucando quem não deveria. Minhas mágoas não deveriam magoar a outrem. Ou deveriam? Cheguei a pouco nessa etapa da vida. Mas sempre me obrigaram a ser adulto o suficiente pra que quando chegasse eu fosse capaz de suportar...

Sheyden AfroIndígena

Posted on 03:03:00 by Unknown

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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Dores nos dissipam - nos destrói, mas qual o sentido disso tudo se não for para nos trazer vida? A dor sempre nos lembra o quão humano podemos ser, mas não é nela que devemos sobreviver, é apenas uma passagem.
A cogitação do amor, do seu amor; é sempre a lua que tem dentro de mim, sim a lua, porque mesmo quando estou na escuridão, você ainda é capaz de me guiar. Talvez o amor seja isto, guiar um ao outro na escuridão que existe dentro deles.
Corra para viver a vida, esta é a poesia mais incerta que você pode ler, a que nos deixa nu enquanto despimos nossas almas e aquilo que nos tornamos para apreciar e delirar do que a vida tem se feito em nós, como uma pintura, qual é a obra que o artista (nós) desenha ali.
Eu queria correr para viver a vida ao invés disto, eu corri para os seus braços – a poesia dos braços é o quanto chamamos ali de casa, de minha casa. O abraço é o melhor lugar de se viver a utopia do amar, porque nos aconchega e nos traz cheiro de lar.
E por fim,
Nem sempre a vida é a mais bela hipótese de ser feliz, mas precisamos entender que também temos nosso lugar ao sol, de aquecer e brilhar – só que na vida das pessoas.


-Beca Vieira

Posted on 22:28:00 by Beca

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quinta-feira, 20 de abril de 2017

Fechei mais uma vez os olhos, queria ver o que tinha guardado dentro de mim, na verdade do que restou de mim – do “nós” que você deixou de lado.
  Mais uma noite o céu está estrelado, mas sempre se esquecessem de iluminar a escuridão que você plantou em mim. O teu sol se foi, o teu amor me deixou em escombro. Existe algo maior do que o vazio e caos que o amor deixa em nós?
  Eu sobrevivo dia após dia com a incerteza do seu adeus, a dor sempre nos mostra o quão forte podemos ser e não é o quanto de força que nos temos, porque no momento que tudo começa a desmoronar – eu me sinto em pedaços, eu me sinto largada como se eu não existisse mais, como se o ar que saía da minha boca, hoje não é capaz de me trazer vida. Sim, com a dor eu vi que posso ser mais forte do que pensei, eu continuo aqui – escrevendo como se fosse a única maneira de superar o que foi perdido, o que foi abandonado, mas na verdade; eu continuo escrevendo para continuar a vida, este é o meu fôlego.
  Fechei mais uma vez os olhos, queria ver o que tinha guardado dentro de mim, na verdade do que me tornei – do amor próprio que me refiz, que me pintei.
 A vida não é o quanto você fica em pedaços, mas o quanto você está disposta a se refazer – uma evolução diária é capaz de te mostrar o quão bela e divina a vida pode ser, mesmo que tenha motivos de perder a esperança – lembra que em tudo, a vida nos traz a grandeza de não apenas viver, mas de sentir, de sermos humanos. Nunca deixe que a sua bravura de enfrentar o mundo, enfraqueça o que você tem de melhor... Um coração.


- Beca Vieira

Posted on 23:08:00 by Beca

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sábado, 11 de fevereiro de 2017


(Você pode ler esse texto ouvindo - Quem vai dizer tchau?)


Gostaria de começar dizendo - amor, eu sinto a sua falta. - mas não poderia, nem mesmo se sentisse. E é estranho, porque me acostumei a sentir sua falta, pensar nas ligações de boa noite, no beijo matinal com gosto de café, nas horas ao teu lado, dando gargalhadas por qualquer motivo, ou simplesmente ficar ali, te encarando enquanto lia o jornal. 
Mas como Ana cantou - costume nunca foi amor - e nunca será saudade. Mas isso ninguém nos diz. 
Ninguém escreve sobre o costume de sentir saudade. Porque, acredito, quando chegamos nesse ponto devemos seguir em frente. E pelo que tenho visto por aqui, muita gente nem mesmo chega nessa parte da história, as pessoas vão substituindo os sentimentos sem mesmo tê-los vivido por completo, nunca chegando ao ponto de se acostumar a sentir a ausência. Nem pensamos nisso. Mas cá estou eu. Me apeguei tanto a saudade que esqueci de avançar. - Gostaria de lembrar que nunca fui boa de meios termos. - Porque é tão confortável apenas permanecer sozinha, relembrando vez ou outra uma boa história. 
Pra criar novas histórias é preciso correr risco - muitos riscos - e talvez, eu me apeguei a solitude e a um você que já não existe mais por medo do inesperado.
 A gente faz isso, não é? Desde criança nos apegamos a qualquer coisa que nos permita não ter medo da escuridão noturna, ou de uma experiência diferente, que justifique o nosso amadurecimento. Na minha época, eram os cabelos lisos, com cheiro de lavanda da minha irmã mais velha. Como era difícil dormir longe dela! E depois, dormir sozinha na minha própria cama, em um quarto enorme só pra mim, como a "mocinha" que eu estava me tornando.
Hoje, ouço aquelas velhas  canções que fazem o coração apertar por não ter em quem pensar, por não pensar mais em você. As canções não fazem mais sentido, porque sentir sua falta também não faz. Assim como não fazia sentido uma garota de 8 anos dividir a cama com sua irmã, mesmo que elas se amassem. Eu  soltei os cabelos dela  e veja  só - correr riscos me trouxeram várias experiências noturnas incríveis. 
Agora é hora de soltar você também e me permitir criar novas saudades! 



- Luíza Moura

Posted on 22:00:00 by Luiza

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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Deixei gritar na pele o ruído que é não te ter aqui. Essa bagunça constante de não saber como permanecer em seus braços, mesmo que doa, o silêncio ainda pode curar a sua falta de afeto, de não me dar amor.
Deixei gritar na pele a espera da sua volta, sua partida sempre me deixa o caos, mas o caos da alma; esperando uma salvação que nunca vem de ti, nunca vem do seu abrigo.
Deixei gritar na pele o seu adeus, a falta de esperança de um 'nós', um riso que se foi ao ler suas mensagens.
Deixei gritar na pele o caos que tu me causou.
Deixei gritar na pele o que já não cabe mais em mim e se um dia eu gritar o seu desamor, é porque eu comecei a amar outra pessoa.


-Beca Vieira

Posted on 10:59:00 by Beca

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2017





A mulher negra
Sofre todo dia

Por ser negra fui escrava
Outrora, tema de baixaria

Por ser negra
tive que me superar
E ainda assim,
Eles vão me julgar

Falar do meu cabelo,
Que eu sou escura demais
Que eu dou um certo receio .

O que eles não sabem, é que eu vou estar
Em qualquer ambiente,
Por todo lugar

E principalmente, 
Onde aos olhos deles, 
Eu não poderia estar.

Festas, televisão 
Restaurantes caros, Milão.

Que se dane a ostentação

Eu sou aquela negra com o filho no braço
Solteira, separada, abandonada
Que foi iludida, enganada, escondida.

Eu sou a negra hipersexualizada
tema de novela, Isaura

A negra que NÃO aparece no Cidade Alerta
A ESTRUPADA
depois da festa

Eu sou neta da escravidão

Eu sou a amante reprimida
sorrindo na solidão.

Eu sou NEGRA
e eu sou LINDA

Gorda, magra e negra
Lisa, cacheada
CRESPA!

Eu sou NEGRA
E eu sou linda, ra di ante

mereço o respeito e o amor
sou poesia ambulante.

Posted on 02:34:00 by Suzana de Jah

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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017


Eu entendi porque você catava as pedras perto dos rios
Porque você amava as conchas, que eram búzios na verdade
Entendi um pouco na verdade, ou só senti, porque não tem como entender a magia
Senti seu cheiro de alfazema que era o meu também, afinal você não ia de lugar a outro sem pedir a proteção dos seus axés
Todo dia de manhã e de noite tinha um café pro preto velho
Nosso lar era bem mágico,
O seu/nosso segredo mais escancarado é que nós era fio dos orixás.

Aquelas madeiras talhadas, com dois pretos velhos, xilogravurados que eu perguntava se era meu avô e vc dizia que sim, hoje eu sei que não era o vô Zé Geraldo, mas era meu vô e seu também haha ou seu pai!
E porque eu não precisava ter medo porque a Tia Maria tava protegendo a gente, a Tia Maria tinha uma história de mulher preta, igual a sua, dolorosa e linda, forte e linda, triste e linda, resistente e linda, tudo que não cabe, hoje eu sei que eu não preciso ter medo, que você vai me proteger também.
Sinto saudade do seu colo.
Agora eu entendo bem mais ou menos, porque as tuas lágrimas temperavam um prato frio de comida no jantar.
Você é uma das maiores mulheres que conheci.
Aí depois de muito tempo eu descobri mais.
Você é das maiores mulheres pretas que tive a honra de ser abarcado e imerso no afeto inesgotável que você não deve ter tido tanto assim mas inventou só para cuidar de mim!

Mama África, Mama Brasilis, Mãe Minas Gerais, Mãe Aquariana, Mãe mundo todo.
Acho que devo ainda escrever um continente sobre vc, mas não alcanço nem a costa, nem o mar, pra ver que você é oceano.

Por: VHFRO

Posted on 20:55:00 by Victor Hugo Leite

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domingo, 22 de janeiro de 2017

Se existe algo de mal-dito
que seja isso combatido
Exorcizado
Com tudo de colonial
Contudo de-colonial

Para que enfim se grite

Se entoe 
Os cânticos da liberdade

VHFRO <3
Para quem é o teatro?  Quem o assiste? Copacabana, 2015, ao entrar no lugar em que ia assistir a peça Maria do Caritó, dirigida por João Fonseca, percebi que eu era uma das poucas pessoas negras que estavam naquele lugar. Não sei se muitos notaram, mas quase todas/os funcionárias/os do teatro eram pessoas negras. Aliás, para dar um ar dos colonialíssimos séculos XIX e XX, as/os funcionárias/os vestiam umas roupas que lembravam um pouco concièrges, ou algo que traduzo aqui como um uniforme vermelho e amarelo ouro, com aparência de chique. 
Na verdade, o que revelam essas vestes? Elas serviam mais para expor de modo ridículo aquelas/es que trabalham e agradar às vistas de uma aristocracia, também qualificada como branca e senhorial, que habitava a sua zona de conforto, em pleno século XXI, a famigerada selva de frequência na arte só para acariciar o status quo e seus egos. Nem tinha começado a peça e eu já estava bem mal.
A partir daqui vá gradando sua velocidade de leitura a cada sinal. A apreensão sobe a cada sinal. Ou não. Se quiser, aumente a intensidade da sua voz. Leia em voz alta, mas vá aumentando. Ou não me siga. Faça uma leitura dramática deste parágrafo que segue. Faça o que quiser.  Brinque. Dê seu tom para o texto. O racismo é politonal. Cuidado! Pode não ser divertido.
Sentei num lugar horrível. Pensei na prática de costume em muitos teatros. Aguardar o terceiro sinal e portas fechadas para escolher um lugar melhor. Primeiro sinal. Fiquei refletindo sobre as pessoas negras com lanternas que conduziam o respeitável senhor público (muito branco) aos seus lugares. Segundo sinal. Levantei para checar possíveis lugares para fazer minha migração e percebi o quão branca era a plateia. Terceiro sinal. Me levantei e fui. O racismo, de vez em quando, é um gesto. O racismo é um gesto. Um gesto. Me aproximei do senhor idoso, cabelos tão brancos quanto a sua pele. – Senhor, posso me sentar aqui?. Ele hesitou.
Hesitar: do latim haesitare. Classe gramatical: verbo intransitivo, verbo transitivo direto e verbo transitivo indireto. Tipo do verbo hesitar: regular. Separação das sílabas: he-si-tar. Significados de Hesitar: (v.t.i. e v.i.) - Vacilar; não ter certeza; demonstrar indecisão; permanecer em estado irresoluto. Exemplo: ele hesitava entre ele poder se sentar ao seu lado ou não; (v.t.d. e v.t.i.) - Duvidar; expressar dúvida em relação a alguma coisa; demonstrar insegurança. Exemplo: Ele hesitou o fato de deixar o rapaz negro sentar-se ao seu lado no lugar que estava vazio após o terceiro sinal. Exemplo (com esperança na revolução, no antirracismo): não hesitou em deixar que o menino se sentasse ao seu lado no lugar que estava vazio após o terceiro sinal e ninguém mais iria chegar; (v.t.i. e v.i.) - Gaguejar; expressar-se de modo confuso; ter muita dificuldade para se expressar. Exemplo: hesitava no discurso; respondia hesitando. Hesitar é sinônimo de: esbambear, titubar, trepidar, tropeçar, trastejar, flutuar, vacilar, duvidar, desconfiar, oscilar, balançar, titubear, recear, testavilhar, tremular. (Fonte: https://www.dicio.com.br/hesitar/ , acessado em 22 de janeiro de 2017, às 12:01.)
Ele hesitou. Hele esitou, ops. Ele hesitou tanto. Isso nos diversos significados de hesitar. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesi-tou. Ele he-si-tou. Ele hesitou. E-l-e h-e-s-i-t-o-u. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesi-tou. Ele he-si-tou. Ele hesitou. E-l-e h-e-s-i-t-o-u. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. . Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou. Ele hesitou... (continua há de infinto, ad infinitum) (foi tanto que não cabe em páginas o tanto que ele hesitou).
Ele hesitou tanto (vide acima e vide o infinito e infinitivo de hesitar). Ele hesitou tanto que eu nunca tive tanta dificuldade de entender um sim. Quando me sentei, ele retirou como que de súbito, o seu braço de perto do meu. Quando me sentei, ele retirou como que de súbito. Quando me sentei, ele retirou. Quando me sentei. Quando me. Quando. Quan. Qua. Qu. Q.
            Quando me sentei, o racismo fez um gesto. Eu que já me aventurei, me debrucei em estudar o movimento e suas linguagens, o gesto, o gestus, a Gestalt, os (des)sentidos. Eu ressentido percebi que aquilo não-dito, aquilo nem-dito era  ‘gestus’, um gesto, indigesto, de racismo, do racismo. Esse mal-dito. Mal-dito gesto. Mal-dito.
            Foi a pior peça que já assisti, não pela peça, mas por aquilo que me acontece, a experiência do preconceito, do racismo. Fui marcado a ferro e fogo. A cicatriz é latente. Ela treme. Ela emerge. Aquilo que nos acontece e que nos atravessa pode vir do pior, do não-dito, do mal-dito. Foi o pior lugar que escolhi para (não) assistir uma peça. Eu fui privado do direito de fruir. Do direito de que aquilo que poderia me acontecer, me acontecesse. Naquela cadeira eu quis gritar a todo tempo, o tempo-todo. Aquele teatro me engolia. Em luz... sombra... e silêncio. Meu grito ficou ali calado, recolhido na cadeira, afundado na cadeira, no não-querer ser-estar, no não-querer existir. No aplauso, eu não aplaudi. Eu hesitei. Dentro de mim era dor (som) e fúria.


O racismo vai ao teatro. O racismo se senta nas cadeiras. O racismo assiste. O racismo aplaude. O racismo, quando não, até espera o terceiro sinal. O racismo se manifesta. O racismo se infesta. O racismo-infecção. O racismo antibiose. O racismo antibiótico. O racismo, esse, MAL-DITO!

Por: VHFRO

P.s: Este é um trecho-excerto do meu TCC que está em processo de nascimento.

Posted on 10:03:00 by Victor Hugo Leite

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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Sheyden AfroIndígena - Fotografia
Cena de realidade, moça, mas que mais parecia cinema. Noite de sábado normal, vizinhos curtem um som alto, bebidas, comidas, jogos, discussões. Tudo como sempre. Beijos ousados de um lado. Início de raiva do outro. Os que eram amigos se batem. Se jogam no chão. Um homem forte e gordo agride a mulher do outro. O outro corre pro carro até em casa. Busca o resolve. E resolve por fim a briga que no campo de batalha não cessava. O irmão hora batia, hora apanhava. A cunhada no meio tentando tirar, apanha da outra do cara que bateu na moça. Um povo corre pro carro, e os socos de fora pra dentro são desferidos sem êxito. O motorista arranca e arrasta a mulher que apanhou do cara e o espancava de fora pra dentro. Cai ensanguentada e desnorteada. O motorista vai até o fim da rua e volta querendo passar por cima dela. O carro com mulher e crianças. Não passa por cima porque o irmão do outro voltou e arrastou se arrastando. No quebra molas já parado meio corpo pra fora do carro. O que busca o revólver resolve atirar contra o outro. Sete disparos, arma conhecida como ponto quarenta. O motorista desiste de bater na porta do carro do outro que disparava. Fogem gritando que acertou alguém. E param no hospital. Já o outro namorado da moça. Volta putaço com a moça que começou a briga por um copo de bebida. Duas semanas depois, ninguém viu nada. E eu mesmo, nem sei do que escrevi. Só sei que por alguns minutos eu tentei e pestanejei falar algo bom. Só pensei em merda, vou sair daqui.

Olhei pra minha irmã do meu lado e disse:

- Sair daqui ir pra onde?! Onde é que é melhor? Fazer o quê? Viver do quê? Aqui ao menos há uma ponta de esperança...

Silêncio...

De volta ao quarto, deito e penso e repenso. Se eu tivesse um daquele resolveria tudo. Ou se eu jogasse na mega, ganhasse e saísse daqui. Já sentiu o que um favelado sentiu? Eu naquela noite de novo senti. Quase desisti de escrever isso aqui. Quase desisti de escrever de novo sobre isso aqui. Quase decidi em desistir de vez disso aqui. O cansaço me capota e durmo quase cinco horas seguidas. Coisa rara nesses tempos. Acordo e me assusto com o tempo. Sorria pra mim. Parecia que dizia pra não desistir antes do fim. Levantei de trégua com o azar e com a sorte. Decidi me reconhecer nisso aqui.

Despejei toneladas de arte num pedaçin de papel. Falei de bocas beijadas e bocas sonhadas. Desejei o topo e minhas conquistas. N'algumas pequenas poesias disse que vai ser melhor eles vir aqui. Conhecer isso aqui. Nem que pra isso eu tenha que escrever de novo e de novo sobre isso aqui. Eu disse pra mim mesmo:

- Cês pode não achar, mas eu sou quebrada. Vivo e morro nela todos os dias.Já sai e voltei tantas vezes. É, eu sou. Eu sou muito mais do que penso disso aqui.

Acordei do sonho antes da hora. Sabe, eu ainda lembro de quando constatei que minha forma de pensar já havia sido denominada nessa sociedade ocidental, e essa forma de pensar era demasiado perigosa. Talvez eu fosse perseguido por pessoas e/ou polícia. Só em dizer que eu fosse esse tipo. Eu lembro e foi como quando me descobri ateu. Fiquei quatro dias sem dormir direito. Tinha ascendido meus pensamentos. Senti medo, fome e frio. Minha ansiedade nesse tempo foi abaixo. Lá embaixo. Lá no poço.

O mundo tinha uma ordem e eu decidi desordenar essa ordem. Vi meus pensamentos preconceituosos. Vi que tinham roubado o meu futuro com o saque ao meus antepassados. Eu sentia ódio do mundo antes mesmo disso. Já era revoltado com o mundo antes mesmo disso. Já pensava em como viver melhor antes mesmo disso. Ser o que sou é só uma denominação. Nada mais. O mundo havia inventado uma palavra pra dizer o que sou. E eu nunca nem pude dizer se concordo ou não. Porque a padronização desse pensamento é perigosa, né?! Já disse de início. Eu sou a merda que o mundo odeia, antes mesmo de saber que era parte dessa palavra. Traduzida de várias formas. E eu nem sabia o que significava, sujo, mal lavado, escarrado, fedido, sem sucesso. Disseram na escolinha enquanto meus pais não vinham por excesso de trabalho. "Ei, pretinho! Vem cá! Cadê seus pais vagabundos, hein?!"

Nem sabia o que era e senti medo, vergonha de mim e dos meus pais que trabalhavam pra eu poder estudar. Mas se tivessem perguntado eu teria dito. Preferia a escola da rua. Mas tinha dias bons lá dentro daquele cárcere, os dias que espalhavam em mim os índios. Toda a escola me via diferente. Sem julgamentos. Mas era só ali. Os outros dias vinham e me trancavam no banheiro durante o recreio. A professora depois não deixava ir no banheiro, dizia que devia ter ido no recreio. E lembrei de tudo isso antes de por o pé no chão. Pés no chão e o mundão gira. Por mais triste que aparente eu gostava de boa parte daquele tempo.

No entanto eu queria ser o Júnior, ter o cabelo igual o do Júnior. Dançar igual ao Júnior. Ter as minas como o Júnior. Ser interessante como o Júnior, o moleque tocava vários instrumentos com doze anos de idade. Eu, no máximo, tocava a água pra ver se tava no ponto pra banhar de copo. Quente onde a água caia e frio no resto do corpo.

Agora cresci me vi aqui, diante a minha face refletida no espelho. Querendo ser, apenas eu mesmo. Barba grande, cabelo grande e tudo bagunçado. Relacionamentos e vida profissional. Tudo na mais harmônica bagunça possível. Quero incessantemente ser o que não deixaram nunca que eu fosse. Perdi tanto tempo que agora perco algum tempo me dedicando esse tempo. A cara eu lavo e os dentes escovo. Me deleito no prazer de reconhecer no espelho, eu mesmo.

E tem tempo que não resisto a um espelho. Me aprecio, vejo o que mudou e que ainda muda. Pergunto, será que faz quanto tempo que não vejo meu antigo rosto?! E, se isso me atrapalha e a resposta é de que, nunca estive tão bem comigo mesmo. Nunca me vi tão lindo em reflexos. Por mais que ainda me encorajo a olhar. Por mais que por noites e dias eu deteste todo o meu corpo e a minha cor. Eu ando gostando de ser eu mesmo. Sem precisar me esconder em palavras, atos e roupas que nunca foram o que sou. E têm dias que esbanjo tamanho amor por mim que me chamam de egocêntrico. Ah, que mentira desses aí. Eu ainda reconheço meus defeitos. Vou bem agora. Coloco uma música que fale mais de mim pra tocar e me inspiro na brisa que bate na porta. E vai ocupando cada espaço da casa e no meu corpo. Como se ela estivesse aqui.

E está aqui a presença dela, presença de Deusa. Cheiro de Deusa. Gosto de Deusa. Eu sou ateu, mas acredito em Deusas. E ela vem sempre quando tô na pior ou na melhor e longe dela. Envia lá de onde tá a sua presença. Pra me contentar com sua ausência. Que bom que agora vem.

Tem um cheiro de erotismo doce do tipo que exala do corpo dela quando a toco. Adoro essa animação que imergi dela aqui. O tempo fica bom. E eu me into melhor. Foda que dura alguns poucos instantes. Mas hoje quando se for eu vou ser o que aprendi a ser. Melhor.

Se foi a brisa e decidi ir ao mundo. Fui. Baú demorado, baú lotado. Da janela pixos de amor. Pixos revividos dos que se foram. Grapixos nos muros das mansões. E mesmo que falassem algo. Eu só conseguia pensar em você. Nua. Seminua. Vestida. Talvez puta, talvez poetisa. Sempre mulher.

Cheguei num sarau e cê tava lá. Como sempre. Sorriu e me alegrou. Elogiou meu perfume. Colou o queixo no meu pescoço. Deu um xero no meu cangote e disse palavras mágicas que abrem qualquer corpo fechado. Pretinho. Teu cheiro na presença é melhor que as minhas pirações. E por fim me beijou o rosto com um olhar no olho, e a mão do outro lado do rosto. Gostei como sempre. E mais ainda que se demorou nu nosso abraço. Bem colado. Lhe sussurrei algumas palavras:

- Pretinha, tenho planos pra mudar isso tudo.

Seu beijo me cala a timidez. E que essa seja a única coisa que me cale de agora em diante. E mais do que surpreso esse beijo foi desejado tantas vezes antes. E bem ali onde todos poderiam ver nossa cena de amor delinquente. Teu beijos que arrepiam e me excitam, minhas mãos que te colam em mim. E só um desejo em mente. De ser teu motivo de escrever poesias.

Fuga do palco pra trocar beijos como num tiroteio escondido num corredor qualquer. Teus seios beijo. E me desabotoa a bermuda. Me ajoelho diante tua cascata proeminente e me afogo no temporal que lhe causo. Com dedos e língua. Com toques peculiares. Que bunda linda de morder. Que lábios carnudos de chupar. Te beijo. Depois de em mim desaguar. Lhe disparo com minha arma. E sentimos a euforia da vida mundana. Agradecemos a existência de nossos corpos. Nos chamam no palco. E a platéia nunca soube o porque da minha melhor apresentação.

Não sei se foi miragem ou se foi real. Ela se foi antes que eu perguntasse. Não sei se tudo aquilo foi um sonho que sonhei no ônibus.

Maluco Sonhador.
Sheyden AfroIndígena.

Posted on 02:27:00 by Unknown

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