sábado, 16 de julho de 2016


É foda ser preto.
O mais foda é quando roubam a nossa negritude. Quando um preto nasce, se ele não for filho de militante ou ter contato direto e constante com alguém que luta pelas e com as senzalas, essa criança terá a sua negritude roubada.
A primeira química que fiz no meu cabelo, eu tinha 5 anos. Exatamente. Porque meu cabelo “armava muito” e assim seria possível “domar os cachos”. Nunca mais usei o meu cabelo natural. Estou em transição capilar há quase um ano e digo com franqueza: Não há um só dia em que eu não pense em desistir. Acontece que a minha negritude foi roubada de mim, pouco a pouco, diariamente. Toda vez em que me diziam que “cabelo liso é mais bonito”, ou quando os meninos escolhiam somente as brancas para se relacionar, ou quando rolavam as “piadinhas” e todo o grupo ria, ou ainda quando atravessavam a rua ao me ver, ou era perseguida pelos seguranças no shopping, eu tinha a minha negritude roubada. Desde que nasci, a sociedade tenta insistentemente me provar o quão “ruim” é ser negro e o quão “sortuda” eu era por ser “negra de pele clara”. 
Eu demorei 22 anos da minha vida para começar a me entender como negra. Um dia eu me fiz a pergunta: Se eu estivesse no Brasil escravocrata, eu moraria na senzala ou na casa grande? Pronto. A negritude começou a aflorar e a partir daquele momento eu passei a entender o que é o racismo à brasileira.
Para quem não sabe, o Brasil passou por um processo de embranquecimento. A vinda do nono e da nona era majoritariamente para embranquecer e ajudar no progresso da população local, já que as brasileiras - miscigenadas - eram muito inférteis e pariam filhos improdutivos e preguiçosos, como as mulas. Daí o termo mulata.
Isso ficou enraizado na nossa cultura de tal forma que muitos negros, até hoje, negam a sua negritude. Porquê? Porque ela nos é roubada. O orgulho de ser negro, de subir um black, da pele escura, do nariz largo nos é roubado.
Uma vez eu estava conversando com um grupo de amigos sobre o holocausto e como os alemães se sentem sobre ele hoje em dia. Eu disse que o nazismo foi e sempre será uma das principais desumanidades na nossa trajetória, junto com a escravidão. Mas a diferença é que boa parte dos alemães entendem e assumem o que aconteceu ali (óbvio que sempre tem o saudosista do Reich que exalta a inteligência de Hitler e seus aliados deixando de lado as 6 milhões de mortes que tamanho “gênio” proporcionou). Não é assim no Brasil com relação a escravidão negra. O brasileiro não se assume racista. E como preta que sou digo-vos: se tem um país racista, é o nosso.
Poucas pessoas entendem a diferença da militância negra americana para a nossa: Como os EUA não passaram pelo processo de embranquecimento, a negritude norte-americana sente - desde o nascimento e de um modo geral - orgulho de assim o ser. Aqui não, ela é roubada.
Não nos ensinam sobre Dandara e Zumbi. Não toca racionais nas festas. Funk é coisa de preto, pobre e favelado. Angela Davis não é leitura obrigatória na academia (com muita luta, ela será citada em uma aula ou outra). E assim, o negro se sente obrigado a ceder ao atual processo de embranquecimento e a negar a si próprio.
Acontece que uma hora a luta te acha e te arma. Você toma para si de volta a sua negritude e passa a vestir preto por dentro e por fora.
 Aos pretos que estão lendo esse texto: o racismo é foda.
Só que a nossa negritude é mais foda ainda.
Ser preto é foda.

Milla Carolina.

Posted on 18:49:00 by Unknown

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segunda-feira, 11 de julho de 2016

Eu sei do que eu tô falando... 

Pode ligar de madrugada, escrever cartinhas e pintar corações nela. 
Ajoelhar no meio do povo só pra me puxar pra dançar e me beijar  na frente de todo mundo, sem vergonha e sem medo, eu não vou parar você. 
Pode pegar flores do quintal dos outros porque tá sem dinheiro de buquê. Pode me levar no boteco do seu zé e comprar salgado, suco, pagar no seu Vale-Refeição.
Pode rir alto, responder antes que eu termine de escrever, de falar. Pode me mandar bom dia com meme de coração, música melosa e na roda dos amigos, você pode me abraçar, pegar minha mão. 
Porque é bom. Porque eu sinto falta disso no mundo, sinto falta disso comigo. 
Porque eu quero um amor quente, barulhento e até meloso. Eu quero tudo isso que eu nunca tive e que parece ser tão bom, porque é. 

Chega fazendo barulho na minha vida, pode me bagunçar, me invadir e ocupar.

Pode porque é bom. Pode porque eu preciso.

Se entrega, se doe
Eu nunca vou magoar você 
e nem te abandonar passando por cima dos seus sentimentos.

Pode vir com tudo amor, que eu já estou ardendo de vontade de te conhecer 

Pode vir porque eu quero saber como são seus olhos, sua pele, seu cheiro que eu já gosto 

Pode vir com tudo em mim.




Posted on 19:46:00 by Suzana de Jah

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domingo, 10 de julho de 2016


Lembro de acender a luz, que ainda não sei como vou pagar a conta

Divido. Diluo. Dívidas diárias... Em poesia

Louco. 

Lírico.

Com esse poema eu escaparia da fome?

Acho que poetizando vai se vencendo cada página desse sangrento livro de injustiças e opressões

Não consigo achar metáforas para a crueldade per capita do capitalismo, 

que interrompe sonhos atravessados pelo tempo do capital.

(RE)volto a entender e sentir a (RE)volta daqueles que tem(os) por herança a inascensão.

Na caneta louca dessa lira legitimo a minha, a NOSSA 

(RE)(VIRA)(VOLTA) nos privilégios dos privilegiados!
               
                (RE)                                
                                     (VIRA)                  
(RE)             
                (VOLTA)

Como queira(mos)!

Afrontar os problemas e (re)vida(r) - dar vida de novo! 


Além de Deus Olorum, haveria de ter fé em um panteão inteiro de Orixás, sentidos nos (e)ternos 

abraços das entidades, com cheiro de cravo, alfazema e capim-limão! Não caminhamos sós! 


Nos muros da UnB, uma coincidência ou uma lembrança?
Carregamos a força de tantos ancestrais.

Fé, Memória, Resiliência e a capacidade de adubar flores com sangue e transformar pedras em sementes - seria o segredo da esperança? Por que vivemos?



As pedras que nos atiraram são as sementes que plantamos,

transformamos sangue, suor e lágrimas em flores lindas,

Consigo sentir o cheiro de um jardim inteiro! E você?

Meninas e meninos pretxs do Brasil, Flores.

Os herdeiros dos reinos das Áfricas todas, Flores.

Congo, Benin, Guiné, Angola, Nigéria, Flores.

Eu, você, nós, Flores.

Há flor no caminho.

Afrô no caminho.

Por: VHfro <3


Posted on 18:24:00 by Victor Hugo Leite

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domingo, 3 de julho de 2016

Afro(Só)lidão

Assisto aqui (só) ao famigerado extermínio dos meus
Assusto (só) aqui à dizimação de nossas culturas inteiras
Não assino o seu pacto colonial
Não açoito
Sigo meio (só) desoriginado
Mas ascendo e acendo
E sobre (só) descendo,
você vai estar (só)
Que (só) se grita aos 4 ventos (UBUNTU)
verbo
DESCOLONIZAR

por: VH <3

Posted on 10:14:00 by Victor Hugo Leite

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Ògan Luiz Alves

Exu é senhor dos caminhos, senhor das encruzilhadas, mestre da comunicação entre o mundo dos vivos e o dos mortos (pra alguns e pra mim, atualmente, Aruanda). É tão bom que é Orixá e é nome de falange de Umbanda também, um tanto dessa linha vem de Aruanda para ajudar a acolher e curar tanta dor e sofrimento do nosso povo daqui. Exu é vida, todo ele! Inclusive acompanha os prazeres da vida. Quando se perde essa força, se perde a vontade de continuar a caminhada, aí você recebe uns sacodes, porque se tem um povo que  teve que aprender a seguir o caminho, de todo modo, esse povo foi o povo preto e as suas mitologias, espiritualidades não deveriam ser incoerentes com a história de sua luta, de sua resistência. O povo de Axé segue resiliente e resistente. Caminhos abertos, apresentados nas encruzilhadas por Exu, mas escolhidos por nós mesmos, somos livres e responsáveis pelas nossas escolhas. Sabe que teve uma época que eu tinha medo de Exu? Quando eu cresci faziam pensar que era o demônio, coisa ruim ou energia negativa ou sei lá o quê. Desdemonizar Exu é se lavar de racismos. Hoje em dia não saio de casa ou de qualquer lugar sem pedir que me acompanhe(m), que cuide dos meus caminhos, Laroyê!

Por: VH <3

Ps: Saudações aqui ao Maluco Sonhador, grande artista estimulador e inspirador de outrxs artistas! Chegando aqui pra colar com vocês, é noix, abrindo caminhos com Exu e em breve vem poesias e mais coisas! Saravá!


Posted on 10:04:00 by Victor Hugo Leite

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