sábado, 26 de novembro de 2016


25.11.2016

Não é literatura. Não é estética. Não é hipérbole ou outra figura de linguagem. E não se trata de querer dar um tom poético aos problemas de ansiedade — e talvez outras coisas desconhecidas — mas é que minha única fuga é a escrita e as vezes ela funciona, quem sabe, acima de tudo, hoje seja um desses dias de sorte. Eu estou definitivamente surtando e posso sentir mais uma vez que estou me afastando de tudo e paralisando uma vida para entender o que é vida e compreender o que sou. Mas em poucas semanas eu me perco em mim novamente e já não reconheço meu rosto. 
Eu estou bem. Eu estou bem. Garanto que estou bem. Eu não estou bem. Não estou nada bem. Mas eu prometo que quero estar bem. Eu juro que estou me esforçando para ficar bem. 
Mas na verdade eu nem sei o que é estar bem. Me disseram esses dias sobre a sensação de encerrar uma semana inteira estando equilibrada, sem a presença do sentimento de estranheza e desconexão. Eu não conheço essa sensação e se já conheci, me certifico de que as sequelas da vida se encarregaram de apagar a lembrança. Eu mal sei o que é completar um dia estando bem comigo mesma.
Eu sinto que a cada dia tomo uma forma interna mais distinta do meu corpo e a cada dia sinto que me encaixo menos em mim. Como se minha pele repuxasse, meu corpo começasse a sofrer mudanças ruins para continuar mantendo esse interno que parece exalar algo podre o tempo i n t e i r o. Como se eu tivesse limpado todos os cômodos da casa mas esquecido de colocar o lixo pra fora. E há quanto tempo esse lixo está aí? Semanas? Meses? Anos?
Eu pensei em buscar ajuda profissional. Juro que pensei. Eu queria reverter essa situação eu queria me sentir bem comigo mesma e eu quero isso há tanto tempo e já tentei tantas coisas. Eu vou buscar ajuda, mas é que antes eu preciso cuidar das plantas. Preciso pagar aquele boleto. Preciso ir no mercado. Sempre tem algo de aparência mais necessária porque não considero de extrema importância nada que faça parte de mim.
E as pessoas dizem que posso contar com elas, mas os celulares nunca atendem, os pontinhos verdes simbolizando disponibilidade nas redes sociais nunca estão quando eu preciso e não é culpa delas, não é culpa de ninguém. E não quero que elas se sintam mal por estarem ausentes nesses momentos, por isso prefiro que não digam que estarão lá para me ajudar. Desencontros são normais, mas são tão comuns que me assustam.
Eu tento explicar para as pessoas que eu me esforço, mas elas parecem nunca estarem satisfeitas com os meus poucos progressos e isso sempre me faz regredir e como dói. Como dói fechar a janela depois de tanta dificuldade pra levantar da cama e abrir ela.
Eu não quero me sentir doente mas eu sei que eu estou, e assim como todas as outras minhas doenças eu estou tentando só arquivar. Costumo fingir que é tudo superficial e que nada ultrapassará minha pele para me atingir na essência. Só que dessa vez não são arranhões na epiderme, está mais para órgãos vitais dilacerados. E eu não me sinto viva mas também não sei há quanto tempo morri. Uma carcaça solta por aí não deveria carregar tantos problemas, principalmente por ser fraca e corroída demais para suportá-los.[Ester Bessa]

Posted on 12:11:00 by Unknown

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domingo, 13 de novembro de 2016



Moro numa quebrada
igual não existiu
a tia de braços abertos
correndo atrás do que sumiu

Subindo de parada em parada
nada fala no silêncio da quebrada
força nacional de farol e rotalight desligados
procuram um desses vagabos

a farda que atrofia
enxerga em mim o seu reflexo
do perseguido o fuzil cego
mira a bala perdida pra encontrar seu nexo

barca carregada de preto
na frente, atrás e arrastadas
furtam mortes
e seguem sons como coiotes

Ninguém viu e ninguém vê
na madrugada o silêncio
é a pegada de quem quer
acordar do sono, cônscio

passam me encaram
com suas placas arrancadas
e números apagados disfarçam

não me querem agora
não sou o banquete
dos pitbulls e rotivailers da hora

Mas o olhar é de sangue
parecem quererem revanche
açougueiros da carne mais barata
não é pólo norte mas matam como avalanche

Nem pólo norte e nem sul
bem vindos ao frigorífico entorno sul
onde os pivetes fazem corre
atrás dos vru vru e das uh uh...

Lugar comandado pelo
partido neo liberal de sua escolha
terra de ninguém daqui sou nativo
mais um três "P" combativo

Três vezes o "P"
na minha pele são marcados
preto, pobre e periférico
nascido do ventre livre que fui carregado

Pedregal onde os notívagos
se escondem e nas sombras vagam.
Quem silenciosamente faz Piquete
nas Paradas embarcam e desembarcam

Piqueteiam no trampo lá no plano
trabalhando pra branco
fingindo não se ressentirem
com um tal de racismo meio brando

Sala de aula um piquete por hora
professor não entende que não dá
realmente não rola levantar mais cedo
porque mais cedo não tem baú, rá!

Professor nunca passou pela roleta e pagou passagem
patrão nunca se sentiu sardinha.
acham que de minuto em minuto surge uma miragem
anunciando baú com vaga fofinha

E nas paradas descem a tia
o tio, o irmão, o sobrinho
o pai fugido e a mãe louca
todos singularmente sozinhos

Desce também quem trabalha
quem rouba e quem estuda
também desce quem de farda mata
cada verdade no seu olhar oculta

Esqueço por um segundo disso tudo
desse outro lado do mundo
quando num baú e por um segundo
cê passa e seu olhar reacende desejos profundos...

Maluco Sonhador
Sheyden AfroIndigena

Posted on 09:39:00 by Unknown

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quarta-feira, 9 de novembro de 2016





Fama é aquilo que dura muito menos que o talento. Quando comecei com a minha page aqui eu fiquei um pouco besta. Tipo, ual. Olha quanta gente curte o que faço. Sou foda neguin, curte só. Tenho mais curtida que meus amigos artistas tudo. E foi indo, até que... Pow, acordei. Não é bem assim. Não é a quantidade de likes que vai dizer o quão bom eu sou. Olha essa galerinha aí, nem tem esses talento todo e já sai tirando quem tá começando. Tão cheios de likes e pouco conteúdo. Pouca ideia pra trocar. Muito ego.

Aterrizei de volta no planeta terra. Me coloquei de volta no planeta quebrada. Aprendi que a minha poesia é diferente desses daí. Procurei quem escrevia na mesma pegada que eu. Estudei mais essa forma de poesia. E aprendi que sucesso. Sucesso é construído de tijolo a tijolo. De prego a prego. De telha a telha. E que isso, jamais colocaria a minha poesia no topo logo de cara. E assim tá sendo também com a fotografia. Tô bem longe de ser um ótimo fotógrafo com o olhar foda. É corre, é corre. Não é essas molezas que me dizem que é não. É cada crise de ansiedade.

Se liga, é deitar na cama depois de um diazão fodido fazendo foto na rua, com medo de polícia e medo de assalto. Pensar e vê que poucas fotos foram as fotos. E também, é sentar e me reler e crer que poucas poesias são as poesias. Não é facin assim não. É cada analisada. É cada consciência que a gente toma. Que fica mais fácil aprender o porque de os grandes serem grandes. E, caras pessoas que leem, continuarem a serem grandes.

Sucesso é o que fala da sua carreira e não do momento criativo que tens. Sucesso é a caminhada. E a fama um atalho. Atalho que te cerceia de aprender consigo mesmo quais são seus limites e porque de tê-los e o porque de quebrá-los.

Posted on 10:49:00 by Unknown

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terça-feira, 8 de novembro de 2016

(Você pode ler ouvindo - Deixa eu dormir na sua casa)

Diz que hoje vai passar um filme que eu vou gostar muito de ver no telecine e quando eu disser que só assino HBO, me chama pra ir até a sua casa. Pipoca e filme no sofá com você. Só isso. Coisa que até amigos fazem. Diz que não existe nenhum intenção pervertida secreta. É apenas um filme.
Me faz esquecer o atlas de anatomia do Netter na sua estante, o prazo pra devolução vai acabar e vamos ter que nos encontrar de novo. É só pra me devolver o livro. Nada demais.
Inventa um resfriado, uma asma, ou qualquer doença respiratória que você tenha só pra eu te acompanhar até o hospital e ficar ao seu lado enquanto toma medicação. Apenas ser sua acompanhante de ambulatório. Nada demais. Afinal, eu adoro hospitais.
Me liga às 16 horas no domingo dizendo que estava passando por aqui e pensou se, de repente, eu não gostaria de assistir ao jogo com você. Mesmo eu sabendo que você jamais teria algo pra fazer aqui perto. E que eu não sei assistir futebol. Mas vem. É só um jogo.
E de desculpa em desculpa, vem! Ou, simplesmente, diz que quer me ver. Diz que sente falta de misturar o som da sua risada com a minha. Fala que tá foda não ter a minha companhia pra ficar acordado até às 6h da manhã jogando conversa fora. 
Vem, com ou sem motivo, mas vem.
Porque tá difícil demais não ter mais desculpas pra ficar.
Vou preparar o café, sentar e esperar que você venha me dar motivos. Porque eu preciso de uma razão, mínima, que seja. Eu preciso ouvir um motivo, vindo de você, pra que eu não desista de nós. Preciso me apegar a algo que me faça ficar, porque eu quero ficar.
Me dê motivos pra continuar a te amar!



- Luiza Moura

Posted on 22:09:00 by Luiza

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quinta-feira, 3 de novembro de 2016


(05/10/2016)
Foi num dia ensolarado. Certeza. Ou talvez estivesse meio nublado e toda a luminosidade
que eu enxergava vinha do seu sorriso e eu, que não consigo repartir a atenção que ofereço, foquei tanto nele que posso não ter reparado direito na composição ao redor. Talvez não fosse um dia ensolarado.
Mas se não fosse, o que explicaria o calor que percorria meu corpo? O que explicaria aquele aquecimento no coração? O que explicaria aquele suor nas mãos?
Era um dia ensolarado, não há outra explicação. Só podia ser um dia ensolarado, assim como foram, magicamente, todos os outros dias ao seu lado.
Mas não importa o calor, o sol, a temperatura. Uma hora o clima muda. Sempre muda. As vezes é chuva fraca, só pra refrescar, lavar a alma. As vezes é chuva forte, por azar ou outra coisa qualquer, para limpar o ambiente inteiro. Quebrar e levar embora toda uma vida que você construiu. Mas o fato, é que ela sempre vem. Se até o sertão uma hora conhece o sabor da chuva, por que seria eu, logo eu, a exceção da regra?
Acho que você ainda lembra do temporal. Aquele do dia em que eu disse que não dava para continuar atrás de você numa velocidade e disposição de quem queria caminhar ao lado, mas que as pernas e passos curtos nunca permitiam. O tempo mudou rapidamente quando notamos esse abismo entre nós. Quando sai e fechei a porta da sua casa, o sol saiu e o céu se fechou sobre mim.
Já faz algum tempinho, sabemos. O que você não sabe é que até hoje, ainda chove e você não faz ideia de como estou inundada de desânimo e tristeza. Ah, meu bem, como faz frio aqui dentro.
Eu ainda rogo em silêncio pelo teu sol, para secar minhas roupas e minha alma.

[Ester Bessa]

Posted on 14:31:00 by Unknown

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