sábado, 31 de outubro de 2015

Imagem: google 

- Outubro foi doce.

 Ela repetia essa frase como quem não quer desapegar. Repetiu tantas vezes, tentando, inutilmente, entender o que de fato significava aquilo. Outubro tem sido doce, é verdade. Alguns anos tem sido assim. Quando passa a turbulência de Setembro. Quando as estações querem mudar. Outubro chega. Outubro trás em si um tempo próprio, uma aura de bem estar. De aconchego. Em algum lugar do mundo as folhas estão secas ao chão e no outro florescendo. Ela torna-se viva novamente. Como se florescesse com a primavera. Outubro é doce. É uma menina que dança sob o Outono europeu. Enquanto floresce com a primavera brasileira. E Outubro tem sido doce.

- Mas outubro acabou. -Pensou entristecendo-se-.


Continua...


Autora: Luíza Moura

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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Imagem
Coloquei o carro pra dentro, tava passando uma música legal no rádio. Deixei tocar num volume bom. Fui fechar o portão. Fechei até a metade. Escorei o ombro no batente. Viajei na música. Não sei dizer o nome, mas ela é clássica nos baus da supra. Como é a avenida mais movimentada da cidade. Passam todos os ônibus. E esse vinha de Brasília. Trazia sonhos. Ela. E ela já estava me olhando de antes de perceber o ônibus, às vezes saio de mim quando começo a pensar. E quando a percebo. Passa a mão no cabelo como todas as vezes que a vi na vida. Desde a escola. Puta que pariu, aquilo é tão sexy. Olha pra frente. Fingi que não me vê. E eu fixo meu olhar na moça da parada doze da quebrada. Que eu sei quem é há muito tempo. Mas não conheço o tocar de lábios. Ela era a garota mais bonita da escola. E é a mais linda da quebrada. A pena que eu sempre quero quem não me quer. E eu não posso levar ninguém a Londres e a Paris. Afinal, eu sou um poeta vagabundo.

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terça-feira, 27 de outubro de 2015



Quero que hoje decida qual música tocar.
Quando começar a tocar os acordes no teu corpo.
Que dispo, com boca e paladar.
Que afago, com tato e língua para ofegar.

Corpo semi nu, ainda puritana.
Arte renascentista, perfeita de forma insana.
O clique das minhas retinas poderiam tornar-te
Minha fotografia favorita, minha arte profana.

O suor quente que escorre lentamente
Na pele fria provoca arrepios recorrentes.
Sem sutiã, vestido florido em pele, calcinha ao chão
Lhe afago com a barba, sorrisos displicentes.

Os batimentos cardíacos são as batidas do tambor.
Acelerados, compassados, ritmados.
Seguem os sons que inflamam os corpos com clamor.
A letra é o meu nome que chama, clama com ardor.


Maluco Sonhador​
Sheyden Souza​

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sexta-feira, 16 de outubro de 2015

[+18]
Fotografia: Jan Saudek

Lhe apanho.
Lhe encargo.
Lhe jogo sem pudor a cama.
Aprecio o espanto e o olhar.
Fera acoada.
Pernas trêmulas.
Pode sair, mas quer ficar.
Quer pagar pra ver.
Me jogo em teu dorso.
Vestido.
Abro.
Arranco.
Calcinha.
Embriagada.
Encharcada.
Olhar pidão.
Beijo os lábios.
E o local mais quente.
Penetro.
Dois dedos e ela.
Locais distintos.
Sente a renda molhada,
Girando.
Entorpecendo.
Gemendo.
Debatendo.
Tapeio as volumosas nádegas.
A cada tapa um som.
Prazer.
Penetro com tudo que há.
Ela contorce.
Se abre.
Goza.
Urra.
Treme.
Mordo as tetas.
Puxo acintosamente os cabelos.
Masturbo o clitóris.
Quer mais.
Tem mais.
Estâmpico de penetração,
prazer aveludado e dor.
Colchão molha.
Tenta cavalgar.
Resisti.
Mas se joga aos travesseiros e morde.
Guia o caminho.
Reconheço o olhar.
De impiedade.
Obedeço.
Estremecemos.
Se joga em meu peito.
A toco, aberto.
Gozado.
Três dedos.
Me rasga.
Me afaga.
Me morde a barba.
De todas as palavras vadias.
Me chamou de poeta.

Maluco Sonhador​
Sheyden Souza​

Posted on 11:32:00 by Unknown

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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Foto: MC LFDAT
Bem vindo ao inconsciente de um socialmente reconhecido como pardo, classe média baixa, inteligente, sortudo. Descendente de povos naturais brasileiros e africanos. Filho de Maurita Ribeiro (negra, mas da pele mais clara) e João Aparecido (pardo, mas aos olhos de todos. Branco). Que têm irmãos e tios dependentes, que mesmo tentando entender não entende e se emputece fácil (por exemplo, ontem briguei com meu irmão. Coração aperta). Que já partiu corações e já teve o coração partido. Que já sorriu, já chorou, e já quis chorar e não tinha lágrimas e já quis parar de chorar e as lágrimas não cessavam. Que já teve as costas queimadas pelo sol e calos nos pés e nas mãos, por trabalho. Que nunca soou como seus parentes mais velhos. Que já sofreu. Mas que reconhece que perto de tantos, não sabe nada de sofrimento. Aí, eu não sou diferente de ninguém só porque consigo escrever. Ou porque frequentei faculdade. Ou porque minha mãe comprou um carro novo depois de trabalhar desde os 14 anos como professora. Ou porque meu pai já recebeu 58 salários num mês. Não sou. 58 salários lá em 98 e tinha mês que não recebia nada, porque preferia ver um sorriso no rosto de quem não podia pagar. Meus pais, a maneira deles, sempre tentaram e tentam até hoje ajudar o próximo. Muitas vezes ficaram no preju, mas outras viram amigos formados. Até os meus seis anos de idade, eu não tinha uma avó. A avó que tinha era de consideração. Porque minha avó biológica rejeitou a mim e minha irmã quando nascemos, por sermos filhos da minha mãe. Que é negra e ela não queria que meu pai se casasse com uma mulher negra. Minha avó é negra, negra como a noite sem luar. Sou mais um que viu sua família se desestruturar por brigas, traições e afins. Que foi a escola no Gama, e conheceu preconceitos e racismos velados pelas crianças que aprenderam em suas casas, com seus medíocres pais, que aprenderam com seus pais, que se reforçaram nas religiões cristãs. Que viu um dado dia, seu primo ser pego pela polícia escolar formada pelos estudantes por simplesmente ser negro. Detalhe, segunda série. Que viu uma professora cheia de ódio de pobre dar aula pra pobre, essa professora é chamada de Ivana e é prima do Joaquim Roriz. Com ela eu não conseguia estudar, só sentia ódio. Escrevia aquelas redações e ela mudava o que queria escrever, sinceramente, se não fosse o Professor João Batista do CEM 03 do Gama, jamais teria voltado a escrever. Continuando. Reprovei. No outro ano fui morar e estudar em São Sebastião. Conheci o déficit de ensino, eu reprovado, era o aluno mais inteligente da sala. Ensinava todos os outros. Conheci histórias de crianças que espantariam tantos adultos. Conheci um amigo que já tinha vendido drogas na escola porque o irmão mandou. Conheci outro que viu o irmão morrer por tiro. Conheci quem vivia em condições sub humanas. Ouvi relatos de garotas prostituídas. Não que fossem diferentes daqui. Pedregal. Aqui conheci tantos também, mas não convivi. Daí fui pra Minas Gerais e Formosa, morei nesses locais na zona rural. Assentamentos desestruturados. Claro, ali passei a entender os planos do governo para com os pobres. Novamente, nas escolas, eu era o aluno mais inteligente da turma. Só que diferente. Tudo que os professores ensinavam, na quarta, na quinta e sexta série, eu já havia aprendido até a terceira série. Aí fica fácil ser o inteligente da família, da escola. Sinceramente, nunca me esforcei pra ser inteligente, nunca estudei pra uma prova sequer. E via quem se esforçava, não conseguir e desistir. Nesses locais, as histórias se multiplicavam. A cada relato, sentia o que contavam. Também tive os meus. Nesses lugares, conheci a fofoca. Essa é uma arma que já matou muita gente e desfez muitas famílias. Chegou a ponto da minha família receber ameaças de morte. Regressamos ao ponto de partida. Aqui, eu voltei a escrever. Voltei a escrever porque aos nove anos ou dez eu escrevi um poema com meu tio. Desde sempre queria ser poeta e não sabia. Aí, não me arrependo de nada vivido. Por mais que aqui eu tenha perdido meu tio João em 2007, porque reagiu a um assalto. Um primo que se suicidou no mesmo ano. Um tio que morreu em um acidente, no mesmo ano. Não troco meu barraco fácil por uma mansão no Lago Sul. Não é esse meu sonho. Meu sonho é que ninguém mais perca um amigo, um irmão, um tio, um pai, uma mãe pelo crime. Pela violência regida por nossos governantes. Deixei de contar algumas coisas, não por omissão. Mas por ainda não estar preparado para escrever sobre.

Eu:

"Negro demais pra ser branco.
Branco demais pra ser negro."

"Pobre demais pra ser rico,
Rico demais pra ser pobre."

"A ultra esquerda me odeia.
A ultra direita também."

"Sabe qual é a nossa diferença, Sheyden?
Meu cabelo é ruim e o seu é bom."

"Filho, o quê adianta isso tudo se não tem dinheiro pra sair?
Pra comprar uma roupa nova? Quem é que se importa?"

"Quantos talentos se perderam por culpa de professoras como a Ivana? Ou pais, ou mídia? Ou por serem diagnosticados com déficit de atenção?
Quantas pessoas se perderam?"

"Quantas vezes quis matar quem me tratava com desdém, preconceito e tudo o mais?"

"Respeito é o que nos mantém vivos"

"21 anos contrariando 75% das estatísticas"

"Quantos parentes agora na cadeia?"

"Mano é fácil, é só pegar uma arma e vender pó."

Minha arma é um papel municiado com palavras escritas com a tinta da caneta, não com sangue..
Eu quero vender pó.
Pó-esia.
PóEsia.
Poesia.
Quero levar amor e prazer a quem lê.
Se não souber ler, declamo.

Isso é pra dizer que eu não sou tão diferente assim de você. Imagino, que em alguma parte você se viu. Viu um amigo. Um parente. Aí, não desista nunca dos seus sonhos. Eu sou obra dos meus sonhos. Eu posso não ter um livro palpável ainda. Mas não porque desisti dos meus sonhos, mas porque o meu sonho é não depender de grandes empresas. De não ver meu talento jogado fora em um Correio Brasiliense da vida. A minha ambição nunca foi ter panos, ter os aparelhos, os pisantes. Ela sempre foi de mudar o mundo com ideias.

Posted on 14:18:00 by Unknown

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