Um verso estampando meu nome. 
 Em um poema meus olhos descritos. 
Crônicas do que seria o nosso amor guardadas em uma escrivaninha no teu quarto. 
Você faz prosa disfarçando-me em metáforas. 
Usa hipérboles para não ser direto ao dizer que me ama. 
E como ama!
E eu sentada aqui, tempos, meses, anos depois, 
percebo que era eu a garota representada em cada verso. 
Que sempre fui eu aquela de quem tu desejavas o afago. 
Mas não percebi. 
E fiz o que faço de melhor nessa vida 
- eu fugi 
de você e das tuas juras de amor intermitentes. 
Era eu nos teus versos. 
Todos aqueles adjetivos descreviam a tua ruiva, loira , morena. 
Todas as minhas face e facetas em tantos poemas. 
E quando notei já era tarde. 
Aos poucos foi deixando de ser eu. 
Foi deixando de ter rima.
A cada nova palavra que você rabiscava em papel sulfite fazia de mim menos tua,
menos nós.
Até que já não havia mais eu nas tuas frases. 
Só percebi depois que a tua poesia se perdeu em meio aos cabelos castanhos de um outro alguém. 
Já não sou mais eu nos teus versos.
Porque você me escreveu e eu nem notei.
E agora te escrevo porque é você. 
Sempre vai ser.
Mesmo que não perceba.