Foto: Janela de ônibus por Sheyden Souza
Eu vos confesso que ando fugindo de escrever quaisquer coisa que advêm dos sentimentos. Tenho evitado o exaurido contato humano, já me basta em casa. Tenho pouco assistido filmes e séries, leio quase nada. E, ainda assim. Não tenho me sentido triste ou infeliz. Só cansado. Incorrigivelmente cansado. Me dediquei a arrumar algumas coisas. Meu futuro livro, meu blog. Arrumei-o-os.  Mas e agora, o que mais falta a arrumar? A casa, talvez, mas já arrumei. O meu lado no guarda roupas? Já arrumei. A bagunça do quarto? Meu irmão caridosamente organizou. A bagunça também foi feita por ele. Há algo? Mas o quê? Talvez, um emprego. É talvez, mas convenhamos que não é isso. Não é isso que falta arrumar. Têm algumas almofadas do sofá fora de lugar e a porta do quarto da minha irmã não fecha, fica rangendo. Mas não, não é isso que falta. Que coisa, tenho dito que não é. Falta algo aqui ó. Aqui no âmago da carne. É algo tão forte que não posso ousar em dar-lhe um nome qualquer. Só posso senti-lo. Sem hesitar. Só sentir. Mas como arrumá-lo se não sei seu nome? Se eu só sinto. Como saber?

Ah, tantas perguntas sem respostas. Tantas respostas sem perguntas tenho criado em meus monólogos diários no chuveiro, na cama antes de dormir, na cozinha ao cozinhar. Minhas respostas são tantas que até me confundo se são respostas mesmo. São. Ou talvez não. Mas, não importa. Importa é saber, que coisa é essa que tem me exaurido tanto. Também sei que não é a maldita sinusite, essa, só tem me roubado a voz e a capacidade de não ter dores de cabeça. Essa coisa é tão íntima, tão pura e singela que tenho dedicado meus dias a entendê-la. Parece que diz que eu devo ir, ir sem medo de haver nãos. De haver dores. E tantos tipos de sofrimentos. Ela parece dizer isso em uma linguagem desconhecida aos seres humanos, a linguagem do coração. É inaudível, é só o que posso dizer. Mas ela diz. Ela grita. Ela esmurra. Ela bate. No entanto, meus ouvidos não doem. Meu corpo não sangra. Só vive num completo mar de sensações e extenuado, exaurido como os escravos de outrora.

Eu tenho evitado escrever para compreender isso. Mas é algo acima da compreensão do ser. É algo fortuito. Mas que precisa de uma mão que o empurre para acontecer. E eu tenho duas! E não sei como empurrar. Procurei não depender das outras pessoas também nesse meio tempo. Confesso, a gente sempre precisa de alguém algumas vezes na vida.

O vento tem soprado tão forte as madrugadas que passei acordado. Faz um som como se eu estivesse em meio a uma tempestade no mar do caribe. Lutando com piratas e militares a procura de continuar a viver. E logo, me enxergo aqui. Lutando com meus próprios sentidos, sentimentos, sonhos e argumentos. Essa é uma das batalhas mais difíceis de existir um só ganhador.

Quando choveu a primeira após quase setenta dias sem chuva, recordei que um alguém sentia com a chuva uma espécie de inquietação e frustração. E logo em decorrente vi atualizar uma rede de suas redes e dizer várias coisas sobre como a vida era injusta e todos os demais sentimentos que aquela bendita e aguardada chuva esperada lhe causava. A mim, a chuva causa uma espécie de plenitude. Nessa pessoa, inquietação. Cada um sente a chuva chover de formas diferentes. A chuva choveu e com ela voltaram as muriçocas, e pra ela os problemas. Pra mim. Uma razão pra continuar. Independente de qualquer coisa, aqui sempre vai chover. E o barulho da chuva, vai me colocar em estado de ser pleno e me causar sono. Espero que a cada chuva eu simplesmente possa dormir. Acho que falta chover nos corações alheios como chove no meu. E se eu não puder dormir, que eu possa ver como é poderosa a água da chuva. Sempre arrastando tudo que é leve, dependendo a quantidade de água que cai. A chuva, arrasta o que tiver de arrastar. Mas se tiver coragem de encará-la, você a vence.


Maluco Sonhador
Sheyden Souza.