Daquele verão só quero lembrar que me senti livre. Pela primeira vez na vida soube o que era não ter mágoas, preocupações, problemas ou falta de afago. Essa liberdade de poder sentir todas as coisas com a intensidade que elas merecem. E não sentir dor. É, pela primeira vez pude ter a liberdade de não sentir dor. Todo mundo precisa de um tempo assim. Conhecer aquele cara inesperado, quando você só espera ter mais uma noite livre de tudo. E então ele está lá. - O barbudo do sorriso sem jeito. - Troca umas três ou quatro palavras e acha que nunca mais vão se ver. E isso não importa. Você está provando da liberdade. Lá no fundo sabe que poderia ser ele. Mas o seu vôo sai amanhã e é melhor não complicar. - Ele quer complicar. - Quando percebe já está envolvida. Tão logo a despedida chega. Que louco, não é? Você sempre foi aquela que ficava. Com a saudade e o vazio pelas ruas da sua cidade. Agora é sua vez. É hora de partir. De deixar outra cidade com a sua saudade. Percebe que ir é pior do que ser deixada?! Sente vontade de ficar. Trocar a passagem. Perder o vôo, talvez? Mas sabe que isso é só uma aventura de verão. Quer que seja assim. Porque se envolver não era o combinado. - Liberdade. Livre de todas as amarras. - Repete pra si mesma, como se isso tornasse o sentimento irreal. Você se prepara pra soltá-lo, o seu psicológico já está pronto pra aceitar a despedida e o quão rápido foi esse encontro-desencontro. Mas ele te segura pela mão e se despede, como se fosse a coisa mais simples de se fazer na vida. - Até Fevereiro, Abril ou daqui 5 anos. - Termina a frase te dando um beijo e te apertando contra seu peito. Sem perceber você é transportada de volta ao seu mundo "normal" , e ele não é nada disso. Você quer aquela liberdade novamente. Perturbada, tenta encontrar uma solução pra isso. Mas só consegue lembrar daquela frase, do sorriso em meio a barba e do abraço quente que o seu verão lhe trouxe.

Luiza Moura