Por todos esses 20 e tantos anos me senti deslocada. Durante um tempo pensava que fosse por não ter uma beleza de padrão, ou pelos meus gostos musicais exóticos. Nunca fui dessas que perdia tempo pensando em maquiagem e garotos. Mas cresci. Meus gostos foram mudando, talvez melhorando, talvez não. Tudo depende do ponto de vista , não é? Enfim... Comecei a gostar de maquiagem e a pensar em garotos. Não tanto quanto possa ser considerado normal. Mas, às vezes, penso. E ainda assim aquele sentimento de não pertencer a este lugar me incomodava. Sem entender, continuei vivendo, convivendo, ou sobrevivendo. Até que um dia entrei sozinha num avião. Vôo 4606, 19 horas - Destino SDU (Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro). As pernas tremiam enquanto as pessoas e os prédios ficavam tão pequenos que só podiam ser notados pelas luzes dos postes acesos. Meu estômago parecia dar uma volta de 360 graus. Tentei me controlar, afinal, nunca tive medo de viajar. Ao contrário, sempre gostei de experiências. Aos poucos fui me adaptando aquilo e percebendo o que eu estava fazendo. Pegando um avião sozinha pra um lugar que não conhecia. Ao desembarcar fui direto passear pela Orla de Copacabana. E senti. Um vento que sussurrava ao meu ouvido - você pertence a isso. Você pertence ao mundo. - Não notei o quanto essa viagem faria diferença em minha vida. Seria a primeira de muitas. Fui novamente. E novamente. E depois pra outros destinos. Alguns a 10 horas de distância, outros a 60 minutos. E a cada viagem que eu fazia, podia sentir mais que eu pertencia ao mundo. E o mundo me queria nele. Percebi que o que me fazia sentir deslocada não eram as roupas, a música, a excentricidade da minha adolescência. Mas sim o fato de eu não pertencer a uma Capital qualquer. Eu deveria pertencer ao Mundo. E conhecer todo ele. Depois que entendi isso consegui me adequar em qualquer lugar. Porque, dentro do meu peito, eu sempre sei que o lugar que eu estou ainda não é o último, não é o único. Ainda vou viajar daqui pra qualquer lugar!

Luíza Moura