(05/10/2016)
Foi num dia ensolarado. Certeza. Ou talvez estivesse meio nublado e toda a luminosidade
que eu enxergava vinha do seu sorriso e eu, que não consigo repartir a atenção que ofereço, foquei tanto nele que posso não ter reparado direito na composição ao redor. Talvez não fosse um dia ensolarado.
Mas se não fosse, o que explicaria o calor que percorria meu corpo? O que explicaria aquele aquecimento no coração? O que explicaria aquele suor nas mãos?
Era um dia ensolarado, não há outra explicação. Só podia ser um dia ensolarado, assim como foram, magicamente, todos os outros dias ao seu lado.
Mas não importa o calor, o sol, a temperatura. Uma hora o clima muda. Sempre muda. As vezes é chuva fraca, só pra refrescar, lavar a alma. As vezes é chuva forte, por azar ou outra coisa qualquer, para limpar o ambiente inteiro. Quebrar e levar embora toda uma vida que você construiu. Mas o fato, é que ela sempre vem. Se até o sertão uma hora conhece o sabor da chuva, por que seria eu, logo eu, a exceção da regra?
Acho que você ainda lembra do temporal. Aquele do dia em que eu disse que não dava para continuar atrás de você numa velocidade e disposição de quem queria caminhar ao lado, mas que as pernas e passos curtos nunca permitiam. O tempo mudou rapidamente quando notamos esse abismo entre nós. Quando sai e fechei a porta da sua casa, o sol saiu e o céu se fechou sobre mim.
Já faz algum tempinho, sabemos. O que você não sabe é que até hoje, ainda chove e você não faz ideia de como estou inundada de desânimo e tristeza. Ah, meu bem, como faz frio aqui dentro.
Eu ainda rogo em silêncio pelo teu sol, para secar minhas roupas e minha alma.

[Ester Bessa]