Falar não é fácil quando não se sabe ao certo como o outro irá reagir. Quando não se sabe a hora certa de dizer "estou apaixonado". Mesmo se querendo tanto dizer.
Você já olhou para alguém e conseguiu enxergar o mundo através dela?
Já a viu sorrir e pensou que o chão abaixo dos seus pés estivesse sumindo, levando-o a uma queda profunda em um abismo? Esse abismo? É o abismo da paixão, meu amigo. E eu estou constantemente caindo nele. Sempre que o vejo.
Com aqueles olhos meigos e intensos. São olhos castanhos comuns, como o da maioria dos milhões de brasileiros possuem. Mas ainda assim... Ainda assim são tão únicos. Olhos de abismos. E mais uma vez eu caio profundamente dentro deles.
Cheguei a um ponto em que já nem tento mais desviar do seu olhar, encaro-o na esperança de, quem sabe, me encontrar, perdida, ali dentro em meio aquele brilho. Brilho esse que ainda não consigo identificar o motivo. Seria eu? Muita presunção acreditar nisso. Talvez. Mas o coração pulsa mais acelerado por qualquer pontinha que seja de esperança. O coração só quer um motivo que justifique o pulsar acelerado de quem quer mais daquilo, mais de nós. E é ele quem tem todos os motivos. Todos os abismos em que estou, completamente, disposta a me jogar.
De cabeça e sem paraquedas.
Falar não é fácil quando a boca só quer calar. Ser calada por aqueles lábios cor rosa claro, perfeitamente tracejados, em um desenho que mais parece um coração.
Ah, aqueles lábios! Jamais encontrarei outro igual. Nenhum jamais foi tão macio, delicado e quente como estes. Nenhum jamais trouxe tanto desejo e tanta ternura.
Ele é feito de ternura dos pés à cabeça.
Por isso é tão difícil falar, quando os nossos pés se encontram entrelaçados, fazendo um nó de nós, durante aqueles minutos pós sexo. Precedendo todo o amor que está aqui, guardado, esperando uma chance pra saltar.
E é difícil falar de amor quando ele ainda não veio, quando ainda só existe num lugarzinho, iluminado, profundo, dentro do peito da gente. E a gente não sabe se sente ou espera mais um pouco.
A gente não consegue falar porque falar torna real. E tornar o amor real, como disse Nando Reis, é expulsá-lo de você pra que ele possa ser de alguém.
Mas a gente não sabe se o alguém o quer. E isso da um medinho absurdo de que toda essa magia acabe no real. De que não haja mais corpos entrelaçados na maciez de uma cama em plena terça-feira, porque a vontade de se consumirem era grande demais pra esperar mais um pouco. Nem músicas transformadas em trilha sonora ou despedidas tão longas quanto puderem durar, porque já se sabe que a saudade vai ser grande, então melhor aproveitar. Quando se deseja tanto, enquanto está ali a admira-lo dormir, dizer eu te amo e não vou fugir. Mesmo sabendo que vai fugir ao menor sinal de desinteresse.
Por isso é tão difícil falar quando não se sabe o que o outro gostaria de ouvir. Se gostaria de ouvir...


Não vou fugir, quero me jogar nos teus abismos. Me abraça!

- Luíza Moura