Era tarde da noite de uma quarta-feira, enquanto tirava umas canções no violão o telefone tocou. Número desconhecido.
- Acho que ficaram alguns assuntos pendentes aqui. - houve uma pausa - Nós precisamos conversar. Posso te encontrar?
Era Isabela, o meu primeiro amor. Eu nunca sabia o que esperar quando ela telefonava ou dizia querer me encontrar.
Relutante , respondi - Conversar sobre o que, Isabela?
- Prefiro falar sobre isso pessoalmente, Mateus.
- Ok, almoço no restaurante de sempre?
- Sim,  até amanhã. E obrigada.
Passei a noite pensando sobre o que poderia significar aquela ligação. Sempre foi tão difícil entender as intenções dela. E agora depois de oito anos sem contato... Não é possível que ela finalmente sentiu a minha falta. Não pode ser. Todos esses anos estive aqui, sentindo seu cheiro pela rua, ouvindo sua voz em meio as minhas canções. Sonhando com ela a cada dia. E ela nunca voltou. Ela nunca deu um sinal de que voltaria. Não conseguia entender.

Me aproximei do restaurante, do lado de fora pude avistá-la, sentada a mesa em que a pedi em namoro pela terceira vez, usando uma camisa jeans e allstar branco no pé. Lá estava ela. Lá estava a menina que eu tanto amei, no corpo de uma mulher.
 Naquele instante não pude me mover, fitei-a por um longo período, não conseguia sentir minhas pernas, não conseguia me mover. Até que ela me avisou e acenou para que eu entrasse. Não sei como, mas de repente, estava ali, parado a sua frente.
- Mateus, uau, como você está bonito! Dizia isso com uma ternura, de forma tão leve, que nem sequer parecia que haviam oito anos entre aquele encontro. - Não vai sentar? - Deu um sorriso escandalosamente lindo.
Sentei e não pude esperar, tive que ser direto.
- O que quer , Isa?
- Conversar - (de novo sorrindo)
- O que temos pra conversar depois de todos esses anos? - não conseguia olha-la nos olhos, tinha medo de que perceberia a minha agonia.
- Você sempre tão apressado e impaciente. - longa pausa e respiração profunda - Eu vim porque estou indo embora, vou me casar e ...
Ela não dizia mais nada. Que agonia! Por que eu preciso saber disso? Ela já me deixou anos atrás.
Percebeu que eu ainda esperava uma explicação e disse pausadamente:
- Eu vou me casar e eu precisava saber se você ainda me ama. Porque se houver uma chance de que possamos ficar juntos não conseguiria jamais me casar com outro homem. Não poderia...
A interrompi antes que terminasse.
- O que você quer , Isabela?
- Uma resposta.
- Até onde me lembro, você foi embora, você decidiu que não me queria mais na sua vida. Eu segui em frente. (Virei o rosto pra que não notasse em meus olhos a mentira)
Ela tocou a minha mão e de repente o toque da sua pele não me lembrava mais nada.
- Vamos sair daqui? - disse já levantando-se.
- Vamos.
Achei que seria melhor evitar um local público, para que pudéssemos conversar ou discutir abertamente. A levei para minha casa. Assim que entramos ela me abraçou. O seu cheiro não era mais o mesmo.
- Você trocou o shampoo...
- É claro que troquei. Fazem oito anos.
- oito anos. - repeti entredentes.
- O que você quer, Isabela?
Me abraçou novamente e tentou me beijar, segurei seu corpo longe do meu por um instante, até que todas aquelas memórias vieram. Algo dentro de mim dizia "é ela, é sua Isabela. Beije-a". Mas eu a olhava e só via uma estranha. Ela ria, e eu via fragmentos da minha Isabela, a menina que tanto amei em um rosto novo.
 Então tomei-a em meus braços e beijei-lhe com toda a intensidade que deveria ter um beijo apaixonado. Entretanto, a paixão não estava presente. Fizemos sexo como nunca antes, mas, no fim, ao deitar em meus braços eu senti que não deveria está ali.
- Você deve se casar.
Podia senti-la corar ao interpretar as  minhas palavras.
 Levantou-se, enquanto juntava suas coisas disse como se não se importasse com a minha resposta.
- Vou me casar. Preciso ir. Fique bem.
Me beijou o rosto e saiu pela porta, enquanto a minha liberdade entrava.
Finalmente estava livre daquela história.
Depois de oito anos.
- oito anos. - Murmurei enquanto a observava sair.

- Luíza Moura