Eu continuo te sonhando aqui. Cada sonho parece mais real que o anterior. E em todos eu posso sentir o teu toque, teu calor, teus cabelos encaracolados em meu peito, suado, após fazer amor. E a quanto tempo não me sentia tão satisfeito com o sexo.
A verdade é que tenho uma mulher linda, dedicada e que faz de tudo por nosso casamento. Eu também tento fazer de tudo. Sabe como sou, seria impossível me casar com alguém sem dar o máximo de mim.
 Por mais que eu tente, ela não me satisfaz como você. Na cama e muito menos na vida. Ela não me inspira e não me faz transpirar poesia como você sempre fez.
Os cabelos chocolates de caimento perfeitamente liso nunca serão tão atraentes quantos os teus cachos dourados emoldurando teu rosto de traços finos.
Por mais talentosa que ela seja, nunca terá tanta classe ao cozinhar ou queimar uma panela como você.
E eu nunca poderei ver a evolução dela enquanto ser humano como vejo a sua. Porque já a encontrei completa. Mas você não.
Você era uma construção de todos os dias. Era o calor debaixo do edredon nos dias de inverno. Era a adolescente em fase de transição. A menina tornando-se mulher. Não a que usa salto e batom vermelho. Mas a de caráter e bem decidida. Lutei tanto por essas mudanças e me despedi antes de vê-la começar. Te plantei e reguei por tanto tempo, mas abandonei-lhe no momento de florescer.
E, veja bem, meu bem, você floresceu. Com esses espinhos que não me deixaram reaproximar.
Tentei por tantas vezes. Mas você não abriu uma brecha, não me deixou mostrar que eu estava aqui e dessa vez era pra valer.
  Não te culpo por não acreditar. Me despedi tantas vezes, entendo você não querer passar por mais um adeus. Mas não era pra ser adeus. Não dessa vez. Era pra ser você deitada nos meus braços, como no sonho. Invés disso, é ela. Enquanto isso, continuo te sonhando aqui. Perguntando-me se deveria procurá-la.


- Luiza Moura