Era quinta-feira. Dia de resultado, de lista dos aprovados, de decisão. Ela sabia que era um desses eventos que marcam as vidas dos seus protagonistas.

Ela prestava vestibular há anos, sonhava em ser médica - com o tempo percebeu que esse sonho não era tão genuíno assim - e naquele dia, descobriria o quão perto estava de abraçá-lo.

Não abraçou. O seu nome não estava na lista. Simples assim. Anos de cursinho, horas de estudos, pilhas de simulados para no fim, o seu nome não estar na lista.
Em meio a lágrimas uma decisão cruzou os seus pensamentos: chega. E foi aí que ela teve de recomeçar … do zero. Refazer planos, projeções futuras, sonhos. Ela teve de se recomeçar, porque quando algo grande nos acontece, a nossa visão de mundo muda, nós mudamos, nós recomeçamos.

A grande verdade é que somos condicionados ao sucesso. Ainda crianças, nós recebemos um caminho - e toda as escolhas que o circunda - a ser trilhado. É o caminho para o sucesso. Nele, não há espaço para falhas, faltas, decepções e, claro, não podemos mudar de opinião, pois isso é sinônimo de desistência, aliás, ta aí outra coisa que não pode ser feita.
Mas, se reparar bem, você perceberá que, em sua maioria, o caminho para o sucesso nos é imposto e isso faz com que haja uma - forte - tendência em nós de batalharmos por sonhos que não são nossos. Um dia, em uma sessão, a minha terapeuta me disse sem rodeios: “Pessoas que vivem em prol dos sonhos que lhes são impostos, ou seja, sonhos alheios tem grandes chances de se tornarem depressivas”. Aquilo bateu seco em mim. Foi como um tiro. Desde então - pouco a pouco - eu comecei a me questionar sobre todas as metas que eu estava submetida e inferi que muitas - de verdade - não partiram de mim. Qual o real sentido de se viver sonhos não-genuínos? Nossas vidas giram em torno dos nossos sonhos, se vivemos sonhos alheios, nós precisamos ter ciência que, na verdade, estamos vivendo vidas alheias as nossas.
As pessoas que nos impõem esse tipo de projeto são as que levam a vida como um jogo; é como se vivêssemos em um grande monopoly e, recomeçar é o tipo de verbo que esses jogadores não gostam. Porquê? Quem recomeça precisa voltar casas, repensar estratégias e isso envolve tempo, o mesmo tempo que talvez seja uma vantagem para o adversário - e suficiente para ele ganhar o jogo.
O fato é que a vida não é um jogo. E, justamente por isso ela, você e eu temos o direito de recomeçar, sempre que quisermos. Nós temos o direito de buscar a nossa satisfação pessoal, o emprego que nos motiva, aquela pessoa que faz o nosso coração transbordar em alegria, nós temos o direito de lutar pela nossa felicidade. Quão miserável deve ser estar no leito da morte e ao analisar tudo o que se viveu, não sorrir.
Recomece. Corte da sua vida tudo - e todos - que não te feliz. Volte algumas casas, repense as estratégias, não tem problema em empreender tempo naquilo que te faz bem. Se a vida de fato fosse um jogo, o único adversário com quem deve se preocupar, é com você.


Milla Carolina